Mocidade Alegre leva história de samurai negro Yasuke ao Sambódromo do Anhembi

Ensaios contaram com elementos da cultura japonesa entre integrantes da Mocidade

Escola prepara cores, formas e referências à cultura japonesa; desfile acontece na madrugada de sábado para domingo

Foco, disciplina e resiliência. São com essas três palavras e uma forte referência ao Japão que a tradicional escola de samba Mocidade Alegre entrará, na madrugada de sábado para domingo, no Sambódromo do Anhembi mirando o tão sonhado décimo primeiro título do Carnaval de São Paulo. E com um reforço “de peso”: o samurai negro Yasuke foi escolhido como tema do enredo deste ano, trazendo a força e coragem aos passistas da agremiação.

Com uma história envolta de mistérios, Yasuke caiu como uma luva para a Mocidade. Registros históricos apontam que o guerreiro foi um ajudante de origem africana, provavelmente de Moçambique, e que se tornou primeiro samurai negro da história do Japão, por volta do século 16. Na época, a aparição dele para os japoneses causou surpresa, pois até então nunca haviam visto uma pessoa negra. Com 1,90 de altura e forte, ele chamou a atenção do nobre Oda Nobunaga que o promoveu Yasuke ao posto de samurai.

Com uma história aderente às propostas e filosofias da Mocidade Alegre, a diretoria logo aprovou o enredo baseado em Yasuke. A própria escola justifica, com orgulho, que a temática traz uma mensagem social clara para os dias atuais, pois “o espírito de Yasuke ressurge no corpo de cada jovem preto, assim como aqueles que hoje habitam a cidade de São Paulo, onde negros e asiáticos fazem morada”.

“A cidade mais japonesa fora do arquipélago oriental é, paradoxalmente, a que também mais mata jovens negros. Por isso, diante de um mundo em que a pele preta assusta, é necessária uma armadura preta, de samurai, semelhante à de Yasuke, para enfrentar as guerrilhas e adversidades cotidianas do mundo contemporâneo. Salve os ‘Samurais da Quebrada’, determinados em não morrer”, publicou a Mocidade Alegre em seu site oficial.

A mensagem contagiou a comunidade. Desde o ano passado, ensaios e preparativos de fantasias e carros alegóricos ganharam tração de forma rápida. O carnavalesco da agremiação, Jorge Silveira, fez uma imersão na cultura japonesa para mesclar de forma harmônica o Japão e a África. Segundo ele, em entrevista ao site carnavalesco.com.br, tanto o Japão quanto a África “são duas culturas de riqueza ancestral imensa. São culturas que carregam por si só, sabedoria. Foram construídas ao longo do tempo baseadas na sabedoria. Todas as duas cultuas tem uma riqueza estética incrível. Se expressam fortemente através da plasticidade. Então, para carnaval isso é um prato cheio e a gente vai buscar explorar o máximo possível”.

Bandeiras do Japão fizeram parte dos ensaios da Mocidade

Na mensagem final antes do desfile, a Mocidade Alegre fez questão de mostrar o otimismo e a energia positiva. “Para o Carnaval de 2023, a Mocidade Alegre usará todo o potencial do sangue guerreiro de seus valentes foliões. Eles, vestidos de suas armaduras-fantasias, enfrentarão mais uma batalha em busca de uma importante vitória: provar que, assim como um dia fez Yasuke, cada jovem preto pode ser o que ele quiser, mesmo que os opressores, o preconceito e a discriminação digam o contrário”, ressaltou a agremiação.

Confira a letra do samba:

“Yasuke”

Autores: Aquiles da Vila, Márcio André, Fabiano Sorriso, Chanel, Marcos L. Gabriel, Salgado Luz, Marcelo Valência, Marcus Boldrini, Diogo Corso, Italo Pires, Marcos Donato, Biro Biro, Turko, Gui Cruz, Rafa do Cavaco, Portuga, Maradona, Imperial, Fábio Souza, Luciano Rosa, Fionda Tem Tem e Vitor Gabriel.

Intérprete: Igor Sorriso

Letra

Meu batuque é resistência, sou mocidade

Trago na pele a força pra vencer

Meu samba é luta e voz, fala por todos nós

Bendito seja o seu poder!

O som do atabaque ecoou… ôô…

Ressoa no couro do taikô

Ê nzazi ê… ê nzazi a…

Nzuzu conduz teu filho nesse mar

Ê nzazi ê… ê nzazi a…

No oriente, tronco forte, baobá

Luar… na cor da noite, beija o sol nascente

Retinta pele reluzente

Mistério na terra de obá

Aos olhos de daimyô, guerreiro despertou

Eis o destino a se revelar

Mandou banhar, escorreu beleza

A verdade da cor, a natureza

É preta sua armadura

Tem na alma bravura

Ninguém segura!

Fiel companheiro

Herdeiro da sabedoria

Honrou sua liberdade

Com dignidade

Derramou o sangue justiceiro

Lágrimas em chamas

Cinzas pelo ar

Serás eterno, jamais se apagará

Em cada jovem o sonho brilha

A sua luz renascerá

Pode ter fé

Que todo preto pode ser o que quiser!

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