Imprensa Nikkei no Brasil – Parte 2 (1946 – 1998)

Por Nelson Fukai*

Quando o governo brasileiro decretou a proibição de jornais de língua japonesa em 1941, os imigrantes perderam a principal fonte de informação. Durante o transcorrer da guerra, as notícias do que acontecia no Japão só eram obtidas de forma clandestina, através das ondas curtas do rádio. Entretanto eram poucos os que tinham um aparelho potente para captar essas notícias e com a dificuldade de aglomeração e comunicação entre os japoneses imposta pelo governo brasileiros, poucos ficavam sabendo com muita clareza dos fatos. Tanto que no final da guerra entre o Japão e os Estados Unidos em 1945, começou dentro da comunidade nikkei um grande conflito, os fanáticos nacionalistas (kati-gumi) afirmando que era falsa a notícia de que o Japão tinha perdido a guerra e os líderes esclarecidos (maki-gumi) que tentavam passar para aos patrícios a verdade dos fatos. Muitos desses líderes esclarecidos foram assassinados pelo grupo adversário e o conflito tomou grandes proporções. Assim, quando os jornais japoneses voltaram a circular no Brasil a partir de 1946, tinham duas importantes missões a cumprir. A primeira de apaziguar o conflito, esclarecendo a verdade dos fatos ocorridos ao final da guerra e segunda, a de ajudar os imigrantes e seus descendentes, que tinham sepultado de vez o sonho que muitos ainda mantinham de voltar para o Japão, na orientação da melhor forma de encarar a fixação definitiva no Brasil.  

E foi isso que fizeram nos seus primeiros anos de existência, os três principais jornais japoneses de maior circulação no período: o São Paulo Shimbun, fundado em 1946 por Mituto Mizumoto, o Paulista Shimbun fundado em 1947 por Tokuya Hiruta e Shuichi Takeuchi e o Nippak Mainichi Shimbun fundado em 1949 por Suuichi Takeuchi (dissidência do Paulista Shimbun). Esses jornais foram de vital importância na arrancada dos imigrantes japoneses e seus descendentes no objetivo de crescer e se tornarem membros ativos e admirados pela população brasileira, pela dedicação, honestidade e valentia. Até 1958, ano da comemoração do cinquentenário da Imigração japonesa, a comunidade estava em fase de apaziguamento (os velhos imigrantes) e de conscientização da condição de cidadãos brasileiros (os descendentes). A partir daí estudar passou a ser uma meta a ser perseguida por todos os descendentes e as universidades, principalmente dos estados de São Paulo e Paraná passaram a ser invadidas pelos jovens nikkeis. Com certeza as décadas de 60 e 70 foram os anos de ouro da comunidade nikkei do Brasil e os três jornais surfaram esse sucesso. Por volta de 1970 a tiragem diária de um desses jornais era de 40.000 exemplares. As competições esportivas inter-coloniais (beisebol, atletismo, tênis de mesa, judô, etc) reuniam milhares de participantes, desde as regionais onde eram feitas as seletivas, até a competição nacional que acontecia na cidade de São Paulo. Nesse período aconteceu o grande êxodo de centenas de milhares de nikkeis que se mudaram do interior de São Paulo, Paraná e até Mato Grosso para a capital paulista e aqui a coisa bombou, como dizem os jovens de hoje. Quatro cinemas que exibiam exclusivamente filmes japoneses (Jóia, Nippon, Niterói e Nikatsu) vivam lotados. Vários bailinhos que animavam os jovens nikkeis, aconteciam em todos os finais de semana. Empresas fundadas por imigrantes japoneses começaram a tomar vulto e junto com empresas japonesas que aqui se instalaram eram importantes para a economia brasileira, naqueles anos chamados do milagre brasileiro. E em toda essa efervescência, os três principais jornais japoneses do Brasil foram fundamentais não só para informar, como também para incentivar o fortalecimento da comunidade.

Nos anos 80 do século passado o Brasil passava por uma séria crise econômica e milhares de nikkeis começaram o êxodo para irem trabalhar no Japão. Simultaneamente começaram a morrer os velhos imigrantes vindos antes da segunda guerra. Nos anos 90 os “kaikans”, células base das atividades da comunidade nikkei, começaram a murchar, muitas empresas nikkeis começaram a afundar e tudo isso começou a afetar a tiragem dos jornais japoneses. Até que em 1998 os jornais “Paulista Shimbun” e “Nippak Shimbun” acabaram se fundindo, criando o “Nikkey Shimbun”, o que seria o fim da era de ouro da imprensa nikkei do Brasil.

*Nelson Fukai estreia nesta edição como colunista do Nippon Já. É engenheiro civil aposentado, estudioso da comunidade nipo-brasileira e apresenta visões práticas sobre os nikkeis no Brasil. Contato: nelsonfukai@yahoo.com.br

Imprensa Nikkei no Brasil – Parte 2 (1946 – 1998)

Por Nelson Fukai*

Quando o governo brasileiro decretou a proibição de jornais de língua japonesa em 1941, os imigrantes perderam a principal fonte de informação. Durante o transcorrer da guerra, as notícias do que acontecia no Japão só eram obtidas de forma clandestina, através das ondas curtas do rádio. Entretanto eram poucos os que tinham um aparelho potente para captar essas notícias e com a dificuldade de aglomeração e comunicação entre os japoneses imposta pelo governo brasileiros, poucos ficavam sabendo com muita clareza dos fatos. Tanto que no final da guerra entre o Japão e os Estados Unidos em 1945, começou dentro da comunidade nikkei um grande conflito, os fanáticos nacionalistas (kati-gumi) afirmando que era falsa a notícia de que o Japão tinha perdido a guerra e os líderes esclarecidos (maki-gumi) que tentavam passar para aos patrícios a verdade dos fatos. Muitos desses líderes esclarecidos foram assassinados pelo grupo adversário e o conflito tomou grandes proporções. Assim, quando os jornais japoneses voltaram a circular no Brasil a partir de 1946, tinham duas importantes missões a cumprir. A primeira de apaziguar o conflito, esclarecendo a verdade dos fatos ocorridos ao final da guerra e segunda, a de ajudar os imigrantes e seus descendentes, que tinham sepultado de vez o sonho que muitos ainda mantinham de voltar para o Japão, na orientação da melhor forma de encarar a fixação definitiva no Brasil.  

E foi isso que fizeram nos seus primeiros anos de existência, os três principais jornais japoneses de maior circulação no período: o São Paulo Shimbun, fundado em 1946 por Mituto Mizumoto, o Paulista Shimbun fundado em 1947 por Tokuya Hiruta e Shuichi Takeuchi e o Nippak Mainichi Shimbun fundado em 1949 por Suuichi Takeuchi (dissidência do Paulista Shimbun). Esses jornais foram de vital importância na arrancada dos imigrantes japoneses e seus descendentes no objetivo de crescer e se tornarem membros ativos e admirados pela população brasileira, pela dedicação, honestidade e valentia. Até 1958, ano da comemoração do cinquentenário da Imigração japonesa, a comunidade estava em fase de apaziguamento (os velhos imigrantes) e de conscientização da condição de cidadãos brasileiros (os descendentes). A partir daí estudar passou a ser uma meta a ser perseguida por todos os descendentes e as universidades, principalmente dos estados de São Paulo e Paraná passaram a ser invadidas pelos jovens nikkeis. Com certeza as décadas de 60 e 70 foram os anos de ouro da comunidade nikkei do Brasil e os três jornais surfaram esse sucesso. Por volta de 1970 a tiragem diária de um desses jornais era de 40.000 exemplares. As competições esportivas inter-coloniais (beisebol, atletismo, tênis de mesa, judô, etc) reuniam milhares de participantes, desde as regionais onde eram feitas as seletivas, até a competição nacional que acontecia na cidade de São Paulo. Nesse período aconteceu o grande êxodo de centenas de milhares de nikkeis que se mudaram do interior de São Paulo, Paraná e até Mato Grosso para a capital paulista e aqui a coisa bombou, como dizem os jovens de hoje. Quatro cinemas que exibiam exclusivamente filmes japoneses (Jóia, Nippon, Niterói e Nikatsu) vivam lotados. Vários bailinhos que animavam os jovens nikkeis, aconteciam em todos os finais de semana. Empresas fundadas por imigrantes japoneses começaram a tomar vulto e junto com empresas japonesas que aqui se instalaram eram importantes para a economia brasileira, naqueles anos chamados do milagre brasileiro. E em toda essa efervescência, os três principais jornais japoneses do Brasil foram fundamentais não só para informar, como também para incentivar o fortalecimento da comunidade.

Nos anos 80 do século passado o Brasil passava por uma séria crise econômica e milhares de nikkeis começaram o êxodo para irem trabalhar no Japão. Simultaneamente começaram a morrer os velhos imigrantes vindos antes da segunda guerra. Nos anos 90 os “kaikans”, células base das atividades da comunidade nikkei, começaram a murchar, muitas empresas nikkeis começaram a afundar e tudo isso começou a afetar a tiragem dos jornais japoneses. Até que em 1998 os jornais “Paulista Shimbun” e “Nippak Shimbun” acabaram se fundindo, criando o “Nikkey Shimbun”, o que seria o fim da era de ouro da imprensa nikkei do Brasil.

*Nelson Fukai estreia nesta edição como colunista do Nippon Já. É engenheiro civil aposentado, estudioso da comunidade nipo-brasileira e apresenta visões práticas sobre os nikkeis no Brasil. Contato: nelsonfukai@yahoo.com.br

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