Imprensa Nikkei no Brasil – Parte 1 (1916 – 1941)

Por Nelson Fukai*

Além das grandes dificuldades rotineiras de adaptação, os primeiros imigrantes japoneses tiveram enormes dificuldades para obter notícias, principalmente do Japão e também do que acontecia no Brasil. Não tinham nenhuma familiaridade com a língua portuguesa e além de informações através de patrícios da redondeza, o que era pouco ou quase nada, as cartas dos parentes que estavam no Japão, que demoravam meses, eram os únicos canais de comunicação.

Em janeiro de 1916, portanto apenas oito anos após a chegada dos primeiros imigrantes, começou a circular o primeiro jornal em língua japonesa no Brasil. O “Shukan Nambei” (Semanário Sul-Americano) era pouco informativo e pouco opinativo, pois tinha como finalidade principal a comercialização de terras no oeste paulista, de vez que Kenichiro Hoshima, seu proprietário, era fundador e dono das colônias “Vai Bem” e “Brejão”. Circulou apenas por cerca de um ano. Das dezenas de jornais japoneses que foram editados no Brasil no período entre os anos de 1916 e 1941, dentre os muitos editados no Brasil, dois tiveram maior circulação e importância histórica.

O jornal “Nippak Shimbun ” (Jornal Nipo Brasileiro) começou a circular também em 1916, fundado por Akisaburo Kaneko e Shungoro Wako. Em 1919 passa a ser dirigido por Saku Miura e passa a ter uma linha liberal, com opiniões em defesa dos direitos dos imigrantes japoneses e que muitas vezes confrontava com as do Consulado do Japão e das companhias que administravam as colônias agrícolas. Também era crítico de medidas do governo brasileiro que poderiam prejudicar os imigrantes japoneses, principalmente o projeto de mandá-los para a Amazônia. Com esse comportamento, Saku Miura foi expulso do país em 1931 por decreto do presidente Getúlio Vargas. Por interferência de amigos o decreto foi revogado, mas em 1939 o Nippak foi suspenso e Miura foi definitivamente deportado para o Japão. Em 1940 houve uma tentativa de relançamento do jornal, inclusive com outra denominação, mas teve curta duração.

O jornal “Burajiru Jihô” (Notícias do Brasil) foi lançado pela KKKK – Cia Ultramarina de Desenvolvimento – uma das que administravam a implantação de colônias agrícolas no Brasil e foi dirigido por Seisaku Kuroishi, um radical de direita e defensor das posições do Consulado do Japão e naturalmente das posições de sua entidade patrocinadora. Sua linha editorial era mais voltada para a elite da comunidade japonesa no Brasil e conclamava os imigrantes a terem uma postura mais positiva em relação aos problemas que os afligiam. O posicionamento político do jornal era de manter boas relações com o governo brasileiro, o que indiretamente incentivava a permanência definitiva dos imigrantes japoneses. 

Esses dois jornais foram rivais não só no campo econômica e na briga por leitores, mas, principalmente, no campo político. Como exemplo vamos citar o fato dos dois cobrarem do Governo Japonês um posicionamento mais firme acerca das atitudes do governo brasileiro em relação aos imigrantes japoneses. Enquanto o “Jihô” lutava pela adequação dos japoneses ao modo de vida dos brasileiros, o “Nippak” reivindicava que os brasileiros aceitassem o modo de vida dos japoneses e reconhecem suas qualidades. Depois do término da Segunda Grande Guerra Mundial, o desenvolvimento da comunidade nikkei do Brasil veio mostrar ao longo do tempo que estas duas posições nem eram tão antagônicas assim.

Em 1940, em consequência da guerra, os jornais de língua japonesa foram proibidos de circular, encerrando assim o primeiro ciclo da imprensa nipo-brasileira.

As informações históricas foram extraídas do artigo – “Nippak Shimbum – Burajiru Jihô” – os primeiros tempos dos jornais japoneses no Brasil (1916-1941) – escrito por Mônica Setuyo Okamoto e Yukako Nagamura para a revista “Escritos”, edição 9 – 2015.

*Nelson Fukai estreia nesta edição como colunista do Nippon Já. É engenheiro civil aposentado, estudioso da comunidade nipo-brasileira e apresenta visões práticas sobre os nikkeis no Brasil. Contato: nelsonfukai@yahoo.com.br

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