O Agora das Companhias Nikkeis: Sojitz Brasil

Esta série de artigos apresenta “o agora das companhias nikkeis do Brasil”

Presidente Toru Shida

Na 25ª entrevista, conversamos com Toru Shida (55 anos), presidente da Sojitz Brasil. Segundo o relatório financeiro que está baseado em IFRS (International Financial Reporting Standards = Normas Internacionais de Relatório Financeiro), a Sojitz renovou o recorde de seu lucro líquido pelo segundo período consecutivo no ano fiscal encerrado em março de 2023, quando a intensidade da pandemia já começava a sinalizar recuos. Atualmente, sob o slogan “New way, New value”, a Sojitz Brasil está focada em projetos voltados para uma sociedade descarbonizada originado no Brasil, em colaboração com diversas empresas parceiras.

Perfil da Sojitz BrasilRazão social: Sojitz do Brasil S.A.
Localização: São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ)
Ano de estabelecimento: 2004 (suas antecessoras, a antiga Nichimen Brasil e a antiga Nissho Iwai Brasil se estabeleceram respectivamente em 1955 e em 1957-1958.)
Número de funcionários: 43
Atividade comercial: como parte do Grupo Sojitz, encontra-se envolvida na fabricação, venda, importação e exportação de uma variedade de produtos em todo o mundo, além da prestação de serviços e realização de investimentos em setores variados
Site: https://www.sojitz.com.br/

Atuando como ponte entre as indústrias do Japão e do Brasil

Interior do escritório

A Sojitz Brasil foi concebida em 2004 como resultado da união entre as antigas Nichimen e Nissho Iwai, que faziam parte das dez maiores empresas comerciais gerais do Japão. A Nichimen estabeleceu seu escritório em São Paulo em 1955, enquanto a Nissho Iwai estabeleceu escritórios em São Paulo e Rio de Janeiro em 1957 e 1958. Atuando como uma empresa de comércio geral, a Sojitz lida com uma variedade de produtos e serviços, determinando as necessidades do mercado para oferecer o que for necessário. No Brasil, os produtos mais notáveis trabalhados pela Sojitz são aqueles relacionados com os setores de recursos minerais para siderurgia etc… e químicos.

Desde os anos 1950, a Sojitz já contribuía para o desenvolvimento das indústrias de base do Brasil, através da primeira apresentação da CVRD (Companhia Vale do Rio Doce, atual Vale), em ascensão, para as siderúrgicas japonesas. Isso resultou no primeiro embarque do minério de ferro da CVRD para o Japão em 1955. Desde então, a Sojitz tem realizado o agenciamento das transações do minério de ferro entre a CVRD e as siderúrgicas japonesas. Além disso, auxiliou indiretamente no fortalecimento comercial entre a CVRD e as siderúrgicas japonesas através da expansão da infraestrutura portuária etc….

Através de uma joint venture societária com a CVRD, a Sojitz também está envolvida na administração da Nibrasco, que produz pelotas de minério de ferro desde 1978. Além disso, durante os anos 1990, fechou um contrato de afretamento de plataformas flutuantes para produção offshore de petróleo com a Petrobras. Assim, a empresa sempre esteve envolvida em empreendimentos que satisfazem as necessidades de cada época e suas ações têm sido reconhecidas e valorizadas pelas empresas parceiras no Brasil. Recentemente, a Sojitz também está atuando como concessionária de automóveis de marcas premium nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Projeto para uma sociedade descarbonizada originado no Brasil

Agora, a Sojitz Brasil está engajada em duas iniciativas visando uma sociedade brasileira descarbonizada.

Uma delas é o projeto de produção do MEG (monoetilenoglicol) verde a partir da biomassa, realizado em colaboração com a Braskem, maior empresa química da América do Sul com sede no Brasil, cujo maior acionista estrangeiro é a Sojitz. O MEG é a matéria-prima para confecção da resina PET (usado na fabricação de garrafas d’água, por exemplo). Ao contrário da resina PET convencional, derivada do petróleo, a resina PET produzida a partir do MEG verde é caracterizada pelo uso da biomassa como matéria-prima. O MEG verde é o segundo produto voltado para a economia de baixo carbono depois de polietileno verde. Por sua vez, o polietileno verde é fabricado a partir do bioetanol da cana-de-açúcar: como a planta absorve CO2 durante o processo de crescimento por meio da fotossíntese, é possível compensar as emissões de CO2 geradas durante o processo de fabricação, tornando-o mais amigável com o meio ambiente. A Braskem é líder mundial na área de bioquímica e espera-se maior crescimento no futuro.

A outra iniciativa é a comercialização de baterias de íon-lítio de próxima geração, que utilizam óxidos de titanio nióbio, desenvolvidos conjuntamente com a Toshiba e CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração) . O nióbio é um elemento metálico considerado essencial para a redução de peso e aumento da rigidez nos materiais de aço usados principalmente nos automóveis. A CBMM é líder mundial na produção e venda de nióbio (cerca de 80% de participação no mercado global) e possui sólida experiência técnica e um programa consolidado de desenvolvimento de produtos. As baterias de íon-lítio de próxima geração, com alta densidade de energia e capacidade de recarga rápida, são adequadas para veículos elétricos etc….

Brasil: terra de riscos e oportunidades

Fachada do prédio onde se encontra o escritório da Sojitz Brasil

O presidente Shida, que já totaliza 10 anos de estadia no Brasil, iniciou seus trabalhos relacionados ao minério de ferro brasileiro desde antes de seu primeiro destacamento para o Brasil, em 1996. Durante o trabalho, ele enfrentou os riscos característicos do Brasil, como grandes variações cambiais e de taxa de juros, além de desafios imprevistos no processo de cumprimento dos planos. No entanto, ele acredita que o Brasil, em contraste com o Japão, é um país de grande escala e que pode trazer à tona seu potencial por meio de “oportunidades que superam os aspectos negativos”. Além disso, ele vê um grande potencial na “profundidade das oportunidades de negócios, independentemente da dinâmica internacional”: por exemplo, aspectos como geração hidrelétrica e bioetanol, antes considerados como soluções óbvias no Brasil, rapidamente ganharam destaque após começarem as discussões sobre a transição para umasociedade de descarbonizacao.

Os arredores da Hospedaria dos Emigrantes de Kobe ligados à origem da Sojitz

Uma das raízes da antiga Nissho Iwai, antecessora da Sojitz, remonta à Suzuki&Co.,Ltd (Suzuki Shoten), fundada em Kobe, em 1874. Quando os imigrantes japoneses começaram a se mudar para o Brasil em 1908, a empresa registrava vendas que correspondiam a 10% do PIB japonês da época e se tornou a maior empresa de comerciais gerais do Japão em 1917. Nos arredores do caminho que liga a antiga Hospedaria de Imigração por onde caminhavam imigrantes japoneses (atual Museu da Emigração e Centro de Intercâmbio Cultural de Kobe) ao porto de Kobe, há muitos locais associados à Suzuki&Co.,Ltd. O “Memorial de Suzuki Shoten” (https://www.suzukishoten-museum.com/footstep/area/kobe_center/) apresenta um mapa turístico, juntamente com paisagens familiares novas e antigas que os imigrantes japoneses teriam visto.

Entrevistadora: Tomoko Oura

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