Aclamado no mundo, ilusionista Keiichi Iwasaki realiza show emocionante na colônia de Guatapará

Uma curiosa coincidência que une gerações

Iwasaki

“Já estive em 70 países, mas esta é a minha primeira vez em uma comunidade nikkei. Este lugar é exatamente como o Japão”. Foi com essa frase que o ilusionista Keiichi Iwasaki, de 51 anos, definiu sua apresentação na Associação Agro Cultural e Esportiva de Guatapará (AACE Guatapará), no último dia 31. O show começou às 18 horas e o mágico entreteve cerca de 200 pessoas por quase uma hora. Em vários momentos do show o público gritava surpreso “wow!”.

Nascido na província de Gunma, Iwasaki viaja o mundo utilizando apenas veículos de propulsão humana. Já chegou a remar um barco por 106 dias pelo Atlântico no ano passado. Desde que saiu do seu país de origem há 23 anos, nunca mais voltou, sustentando-se apenas com gorjetas que recebe realizando apresentações nas ruas. Há dois anos, seu nome tornou-se conhecido mundialmente ao participar do programa televisivo Britain’s Got Talent (BGT), no Reino Unido, e se tornou o primeiro japonês a ganhar o Golden Buzzer, provando que suas habilidades como mágico são de classe mundial.

Uma cena do show

O artista japonês apareceu nas dependências da entidade nikkei em sua bicicleta – sua companheira de viagem ao mundo. Várias crianças foram convidadas para subirem ao palco para participar das mágicas do Iwasaki e, em um instante, o público todo já estava maravilhado com o universo mágico.

“Parece um sonho”, comentou Sumiyo Wakiyama, de 73 anos, nascida na província de Yamaguchi, que assistiu ao show de Iwasaki. “Me emocionei quando assisti ao vídeo do Iwasaki san sendo premiado no Reino Unido pelo YouTube. É mais emocionante ainda poder ver ao vivo a mágica que assisti pelo vídeo. Vou contar para os meus netos”, completou.

A ideia de uma visita do ilusionista surgiu de forma “mágica”. Há dois anos, o presidente da associação guataparaense Wilson Takagi viu, por acaso, o vídeo do Iwasaki no Reino Unido pela internet. Se encantou com a performance e fez uma pergunta: “Será que ele não poderia, de alguma forma, fazer um show na colônia de Guatapará?”. Para obter uma resposta, decidiu procurar contato com o mágico.

No ano passado, Takagi ficou sabendo pelas redes sociais de Iwasaki que ele havia cruzado o Atlântico para chegar ao Suriname, na América do Sul, e que estava de passagem pelo Brasil, pedalando pelo Oiapoque. Com a ajuda de sua filha – que desde o ano passado trabalha como veterinária no Japão -, o presidente conseguiu contato direto com o Iwasaki no Instagram. A princípio, o plano era seguir para Bolívia, passando apenas por Goiânia (Goiás) e Campo Grande (Mato Grosso do Sul). Mas decidiu mudar sua rota para passar em Guatapará, em resposta ao entusiasmado pedido do presidente Takagi.

Foto comemorativa após o show

A colônia japonesa de Guatapará foi construída em 1962 e ainda abriga cerca de 300 pessoas de aproximadamente 90 famílias. No show de Iwasaki, quase todos os moradores da colônia estavam presentes. “É a primeira vez em muito tempo que tantas pessoas se reúnem aqui hoje”, disse Katsuhiko Hayakawa, de 81 anos da província de Aichi. “Na Festa da Colheita, por exemplo, todos têm seu trabalho designado, então não podemos apreciar as apresentações assim como pudemos hoje”, completou Hayakawa. Sobre as mágicas de Iwasaki, disse “não ter conseguido reparar em nenhum truque”.

A princípio, a Associação Agro Cultural e Esportiva de Guatapará era o departamento cultural da Cooperativa Agrícola de Cotia, que mais tarde se tornou-se independente.

Irmão mais velho do presidente Takagi, Masaharu, de 73 anos, da província de Ibaraki, compartilhou uma memória interessante. “O primeiro presidente do departamento cultural foi nosso pai. No aniversário de cinco anos da colônia, ele trouxe um mágico de São Paulo chamado Daimou. Foi um sucesso. Meu irmão tinha acabado de nascer naquela época. Hoje, depois de 60 anos, quem diria que ele traria um mágico como Iwasaki san”, destacou.

Além do show de ilusionismo, abrilhantaram a noite de domingo apresentações de taikô e yosakoi soran dos grupos da própria AACE.

O mágico japonês, que saiu do Japão há 23 anos movido pela curiosidade de conhecer o mundo, conta que “foi a primeira vez que realizou um show em japonês”. “Sinto que aqui existe o Japão da era Showa”, disse Iwasaki, referindo-se à comunidade nikkei como “rara no mundo”.

Iwasaki suspenderá temporariamente a sua viagem de bicicleta e estará na capital de São Paulo a partir do dia 3, com viagem já marcada para dia 8, para participar de um show na Ásia. Ele ainda se disponibilizou para eventuais convites de shows pela cidade, desde que seja compatível com a sua agenda.

Confira o canal de YouTube de Iwasaki: https://www.youtube.com/KeiichiIwasaki

(Traduzido da matéria original de Masayuki Fukasawa, publicada no Diário Brasil Nippou)

Análise: Contadas com simplicidade, experiências inimagináveis de Keiichi Iwasaki mostram uma rigorosa aventura pelo mundo 

Uma cena do local onde as pessoas são atraídas pela magia de Iwasaki-san.

Perguntei a Keiichi Iwasaki, que está atualmente em uma viagem de volta ao mundo utilizando apenas veículos de propulsão humana: “qual foi o momento que você ficou com mais medo?”.

Ele respondeu de forma enfática: “Foi quando me perdi no Monte Everest. Depois que chegamos no topo, me perdi dos xerpas assim que começamos a descer. Eu sozinho no meio de uma montanha de neve. Naquela hora eu me preparei para morrer e pensei seriamente ‘sinto muito, pai e mãe’. Mas depois eu reconsiderei esse pensamento e me acalmei. Voltei pelo caminho que havia acabado de percorrer, quando consegui ver sombra de pessoas e assim retornar em segurança ao caminho certo.”

Iwasaki está em meio a uma tentativa de completar a volta ao mundo desde 2002, quando pegou uma balsa de Shimonoseki, na província de Yamaguchi, para Busan, na Coreia do Sul. Na China, adquiriu sua bicicleta começando a viagem apenas com veículos de propulsão humana. Durante a sua jornada até agora, já escalou o Monte Everest começando do nível do mar; desceu o Rio Ganges, na Índia, de barco; percorreu a Europa pelo Oriente Médio; e, no ano passado, completou uma travessia solo de barco a remo pelo Oceano Atlântico, que durou três meses, chegando no continente sulamericano.

Quando perguntei o que o motivou a descer o Rio Ganges, ele explicou que “queria seguir as neves do Himalaia, desde quando elas derretem se transformando em águas do rio até desaguarem no mar”.

Também perguntei “por que atravessar o Atlântico com um barco a remo?”. Ele respondeu: “achei que veículos de propulsão humana são a melhor maneira para sentir a imensidão do mar. Para entender e sentir na pele o tamanho do mundo, não tem outra opção melhor que veículos de propulsão humana”. As suas ideias são extraordinárias.

De acordo com próprio Iwasaki, ele viaja em média uma distância de 70km por dia com cerca de 20kg de utensílios domésticos em sua bicicleta e, no Brasil, ele se hospeda principalmente nas instalações de postos de gasolina para continuar com o seu estilo de vida independente. Ele carrega apenas um mínimo de três mudas de roupas.

De Oiapoque, cidade do extremo norte do país, até Macapá, Iwasaki pedalou por quatro dias em estradas de terra, onde não tem lojas ou até mesmo postos de gasolina, debaixo de um sol escaldante. “Fiquei surpreso que só tinha mato durante todo o percurso”, contou ele, abismado com o tamanho do Brasil e agradeceu dizendo que recebeu ajudas de pessoas como trabalhadores de construção de estrada e de comunidades que nem no mapa constam. Nelas, moradores compartilharam água com ele.

Após o show na Ásia, Iwasaki voltará ao Brasil para seguir para Iguaçu, no Paraguai, passando pelo Paraná. Depois, seguirá em direção ao sul até Argentina, e do Chile seguirá para norte passando por Peru, Equador, Colômbia e Panamá, percorrendo assim a América Central e seguindo rumo à América do Norte. O plano é ainda remar de São Francisco para o Havaí. De lá, pretende retornar ao Japão.

Ouvir a sua história é de causar tontura em qualquer pessoa. As suas experiências já vividas e seus planos futuros são surpreendentes. No entanto, Iwasaki é muito humilde e explica tudo com simplicidade e modéstia. “Encontrei com muitas pessoas bondosas em muitos países. Só cheguei onde estou graças a essas pessoas”, concluiu.

(Traduzido da matéria original de Masayuki Fukasawa, publicada no Diário Brasil Nippou)

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