O Agora das Companhias Nikkeis: FRUTA FRUTA

O açaí é conhecido como uma superfruta amazônica tanto no Brasil quanto no Japão. No Japão, a empresa FRUTA FRUTA foi a responsável pelo início da popularização do açaí. Nesta 29ª entrevista de empresas, conversamos com o presidente da FRUTA FRUTA, Makoto Nagasawa (62 anos, natural da província de Hyogo). A empresa tem sua sede ao lado de um belo bosque no centro de Tóquio. No Japão, a empresa é a única importadora/distribuidora de frutas provenientes da CAMTA (Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu), que é a maior fornecedora de frutas amazônicas, e é pioneira em marketing agroflorestal, conectando diretamente a Amazônia ao Japão.

Perfil da FRUTA FRUTARazão social: FRUTA FRUTA, Inc.
Localização: Tóquio
Fundação: novembro de 2002
Número de funcionários:
35
Atividade comercial: importação e distribuição de frutas amazônicas
Site: https://www.frutafruta.com/
Logotipo da FRUTA FRUTA

“Pirata da Amazônia”: Como tudo começou

Presidente Makoto Nagasawa

Conhecido como “tio do açaí”, Nagasawa foi o primeiro a importar açaí no Japão. Por meio do comércio das frutas amazônicas, ele desenvolveu um modelo de negócio que conecta as agroflorestas aos mercados de países desenvolvidos. A agrofloresta, também chamada de agrossilvicultura ou sistema agroflorestal, é um sistema de produção inspirado na dinâmica dos ecossistemas naturais e que permite a colheita de diversos produtos devido à plantação de espécies florestais junto com cultivos agrícolas e/ou criação de animais. Com o lema “viver em harmonia com a natureza”, a FRUTA FRUTA transforma as colheitas da agrofloresta em produtos inovadores, visando uma sociedade sustentável onde os benefícios econômicos e ecológicos coexistem.

A conexão de Nagasawa com o Brasil começou em 1990, quando trabalhava numa empresa alimentícia que fabricava chocolate em Kobe. Na ocasião, Nagasawa visitou o Brasil em busca de cupuaçu, uma matéria-prima não convencional para chocolate. Depois de pesquisas, Nagasawa desenvolveu um delicioso chocolate de cupuaçu e iniciou o processo de registro da marca e patente, mas uma ONG de preservação da Amazônia o acusou de “roubar o tesouro da Amazônia”, chamando-o de “pirata dos recursos biológicos” na mídia brasileira. Essa acusação, embora sem fundamentos convincentes, resultou na retirada da empresa do projeto de cupuaçu para evitar a escalada do alvoroço. Paradoxalmente, foi esse incidente que deixou o cupuaçu famoso no Brasil inteiro: antes só era conhecido na Amazônia.

Partindo novamente: desta vez, do eixo Belém-Kobe

Logotipo da CAMTA (Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu)

Após a retirada do projeto de cupuaçu, Nagasawa esteve desanimado, mas foi encorajado por membros da CAMTA que conheceu durante a busca pelo cupuaçu. Eles explicaram o valor da agrofloresta, que permitia colheitas diversificadas, e Nagasawa percebeu que não precisava focar apenas no cupuaçu. Ao saber que Nagasawa era de Kobe, os membros da CAMTA disseram que seus pais também vieram a bordo do navio que partiu da mesma cidade, e ofereceram cooperação caso ele estivesse realmente disposto a se dedicar ao trabalho na Amazônia. Impressionado pela dedicação e diligência dos imigrantes japoneses de Tomé-Açu no desenvolvimento da agrofloresta, Nagasawa fundou, em 2002, a primeira empresa de marketing agroflorestal do mundo na cidade de Kobe.

A razão social da empresa repete a palavra “fruta” duas vezes para simbolizar a abundância e a diversidade das frutas. No logotipo da empresa, encontra-se grafado “BELÉM-KOBE” em homenagem aos imigrantes japoneses que começaram a agrofloresta na Amazônia há 90 anos atrás. No centro do logotipo foi inserido uma ilustração de arara, que simboliza o vínculo entre as pessoas para o povo da Amazônia. No Brasil, o “Dia do Açaí” é comemorado em 5 de setembro, mas no Japão o dia 16 de setembro foi escolhido por ser a data de chegada dos primeiros imigrantes japoneses a Belém, e é comemorado com eventos que reúnem fãs do açaí.

Redução de CO2 indicada nos produtos amazônicos

“Açaí Energy®” com o símbolo que indica a redução de CO2 no processo de produção

A agrofloresta é uma prática agrícola sustentável que é observada mundialmente, mas o Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (SAFTA) implementado pela CAMTA recupera solos degradados da Amazônia através do plantio de diversas mudas frutíferas e de madeira junto com cultivos agrícolas e permite colheitas contínuas desde o primeiro ano, além de realizar a restauração florestal, o que tem chamado a atenção mundial. A FRUTA FRUTA iniciou suas atividades com a operação de um juice bar, que usava frutas importadas diretamente de Tomé-Açu. Na época, o açaí ainda não era muito difundido em São Paulo, e a popularidade da fruta no Japão acabou resultando numa “importação reversa” do conhecimento sobre a fruta para o Brasil. Em pouco tempo, o assunto passou a ser tema na mídia. Após um ano e meio, a empresa já expandia para Tóquio e fornecia frutas para restaurantes, fábricas de alimentos e instalações esportivas. Em 2006, lançou os produtos “Açaí Energy®” e “Açaí Energy® Diet”.

O “Açaí Energy®” usa uma embalagem reciclável conhecida como cartocan, produzida a partir de resto de poda. A embalagem é o primeiro no mercado japonês de bebidas a exibir a quantidade de CO2 reduzida durante o processo de produção.

Atenções voltadas ao “tio do açaí”

Principais produtos da FRUTA FRUTA

No dia 3 de maio, o Primeiro-Ministro do Japão, Fumio Kishida, visitou o Brasil e, em reunião com o Presidente Lula, lançou a “Iniciativa de Parceria Verde Japão-Brasil (GPI)”, visando fortalecer as relações bilaterais nos campos de proteção ambiental, enfrentamento às mudanças climáticas, desenvolvimento sustentável e economia. Na iniciativa, foi incluído o “Memorando de Cooperação de Tomé-Açu Sobre o Uso Sustentável da Biodiversidade da Amazônia”, que promoverá a troca de conhecimento sobre práticas bem sucedidas de produtos e atividades baseadas no respeito à biodiversidade. Com a COP30 programada para ocorrer em Belém (PA) no próximo ano, não há dúvidas de que o “tio do açaí” vai atrair grande atenção.

Fachada do Edifício Agrofloresta, onde se localiza o escritório

Entrevista: Tomoko Oura

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