Excursão a locais associados aos despejos forçados de japoneses na Segunda Guerra reúne mais de 70 pessoas em Santos

O grupo posa para uma fotografia na estação de Valongo. O Presidente Nakazawa (atrás) e o Sr. Miyamura explicam o incidente no estrela de ouro. Um ato de teatro improvisado. Um marido arruma os seus pertences com uma expressão sombria depois de receber uma ordem de despejo, e a sua mulher revê a casa com grande emoção. Akira Miyagi faz o seu discurso.

Momento de memórias e lembranças. Foi assim a excursão organizada pelo Seiwa Tomonkai em Santos, que reuniu mais de 70 pessoas interessadas em revisitar os locais associados aos dolorosos episódios de despejos forçados de japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. O evento, realizado em 8 de julho, foi uma oportunidade para os participantes refletirem sobre os impactos históricos e pessoais desses eventos.

O passeio buscou explorar o chamado “caso Santos”, quando, após o afundamento de navios brasileiros e norte-americanos por submarinos alemães na costa de Santos, o governo brasileiro ordenou a expulsão abrupta de 6.500 imigrantes japoneses e alemães em um prazo de 24 horas. Esta ação foi motivada pela suspeita de espionagem na área costeira.

Akira Miyagi, representante do Centro de Estudos da Imigração Okinawana do Brasil, destacou histórias como a de Sakuma, cujos pais foram forçados a deixar Santos mesmo com a mãe prestes a dar à luz. “No caso de Sakuma, que tinha sete anos na época, a mãe estava no último mês de gravidez e o pai perguntou à polícia se poderiam esperar até que ela terminasse de dar à luz. A polícia respondeu: ‘Não importa se é o nascimento de uma criança. Os japoneses devem sair de Santos. Caso contrário, vamos prendê-los'”, relata Miyagi, ilustrando a dureza das ordens na época.

O evento também teve um contexto informativo organizado pela “Estleiras de Ouro”, organização nikkei, com o vice-presidente Ryoichi Enohara presidindo a reunião. O presidente Nakazawa iniciou o encontro com um discurso emocional: “Cheguei ao Porto de Santos em maio de 1963. Todos os imigrantes têm lembranças e vínculos com este lugar. Foi aqui que aconteceu a tragédia da guerra e, no dia 25 de julho, o Seiwa Tomonkai vai organizar uma excursão à capital e convido-vos a juntarem-se a nós”.

Sadao Nakai, presidente da Associação Japonesa de Santos, detalhou a situação social da região antes e depois da guerra. Ele mencionou uma campanha iniciada na década de 1990 para recuperar a Escola Japonesa, confiscada pelo governo federal durante o Incidente de Santos. Após anos de luta, os direitos da terra foram formalmente transferidos em 2018, um marco importante para a comunidade.

O realizador Yoju Matsubayashi, ao descobrir uma lista de deportados, inspirou-se a produzir o documentário “Okinawa Santos” (2020), que destaca o impacto humano e social do incidente histórico. O filme trouxe à tona histórias como a de Hidemitsu Miyamura, cuja mãe estava grávida de cinco meses na época do incidente e viu sua família perder suas propriedades e enfrentar a discriminação como suspeitos de espionagem.

Hiroko Hamada, guia oficial e participante da excursão, expressou sua preocupação com a escassez de documentos sobre o incidente. Ela enfatizou a importância de visitar os locais históricos para melhor compreender e preservar a história para futuras gerações.

Após um almoço compartilhado, os participantes dirigiram-se à Antiga Escola Japonesa, onde uma emocionante encenação dos eventos que antecederam a deportação, protagonizada pelos atores Rogelio Nagay e Winnie Moriyama, foi calorosamente recebida pelos presentes. Finalizando o dia, visitaram a Estação do Valongo, onde os deportados embarcaram para São Paulo, relembrando com pesar os dias sombrios vividos.

A excursão recebeu significativa cobertura da mídia japonesa, incluindo o Yomiuri Shimbun, Kyodo News, Jiji Press, e equipes de filmagem locais da TBS, que documentaram a jornada e capturaram os relatos dos participantes, ampliando a conscientização sobre este capítulo doloroso da história mundial.

(Colaboração: Masayuki Fukasawa – Diário Brasil Nippo)

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