Câmara Municipal de Assaí (PR) presta homenagem póstuma a Carlos Yoshiyuki Kato

George Hiraiwa, Ângela Horita, Maurício Horita, Reinaldo Yamada e o presidente da Fundação Kunito Miyasaka, Roberto Nishio Resgate e preservação da memória de Assaí – Aldo Shiguti

No dia 7 de junho, o Cerimonial da Câmara Municipal de Assaí, no Norte do Paraná, se deslocou até a sede da Laca (Liga das Associações Culturais de Assaí) para uma ocasião muito especial. Numa cerimônia singela, mas repleta de significados e cercada de emoção, a cidade, fundada em 1932 e considerada a “cidade mais japonesa” do país, fez um importante resgate de sua história ao prestar homenagem póstuma a um de seus fundadores, Carlos Yoshiuki Kato,com a entrega do Título de Cidadão Honorário de Assaí.

Nascido em 1888, em Hikone, na província de Shiga, Yoshiyuki Kato também foi – ao lado de Kunito Miyasaka, um dos fundadores do Banco América do Sul, um dos símbolos da presença japonesa em solo brasileiro.

Estiveram presentes a proponente da homenagem, vereadora Sandra Maria de Souza; a presidente da Câmara Municipal, Leni Oliveira; o vereador Paulo César Miyazaki; o prefeito municipal de Assaí, Michel Ângelo Bomtempo (Tuti Bomtempo) e o vice, Cairo Koguishi; o presidente do Conselho de Administração do Sicoob, George Hiraiwa; o ex-prefeito de Assaí e vice-presidnete da Aliança Cultural Brasil-Japão do Paraná, Yoshinori Fucuda e o vice-presidente do Bunkyo – Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social – Roberto Yoshihiro Nishio, que preside também a Fundação Kunito Miyasaka, além dos netos Reinaldo Yamada e Mauricio Horita, que vieram de São Paulo especialmente para a cerimônia.

Estiveram presentes também o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação de Assaí, Igor Lima Freire Oliveira, o presidente da Sama (Sociedade Amigos de Assaí), Pedro Fujii e a vereadora Neuza Costa, além secretários municipais.

Emoção 1 – Emocionado, Yoshinori Fucuda enalteceu o trabalho dos imigrantes japoneses, “que acreditaram que aqui tinha coisa boa”. “Hoje a gente vê o resultado. Nós que moramos aqui não percebemos, mas Assaí cresceu e evoluiu muito”, disse Fucuda. O advogado e ex-prefeito de Assaí explicou que a Câmara Municipal de Assaí fez “justiça” ao homenagear a família de Carlos Yoshiyuki Kato. “Uma pequena semente lançada há mais de 90 anos germinou, brotou livre e cresceu, graças ao trabalho dos pioneiros”, destacou Fucuda, que ficou bastante emocionado. 

Ao concluiur sua fala, que parabenizou o trabalho dos vereadores, dos secretários e do chefe do executivo de Assaí.

– Assaiense, o ex-secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento do Paraná, George Hiraiwa, disse que, quando soube da homenagem, fez questão de estar presente na cerimônia. E iniciou sua fala com uma citação extraída da biografia de Fujio Tachibana em Samurai sem Armas, que conta a história de um dos ícones da comunidade nipo-brasileira, tanto na área financeira como ex-presidente do Banco América do Sul, como também na área cultural, como ex-presidente da Aliança Cultural Brasil-Japão: “Fé é acreditarmos no que não vemos. E a recompensa dessa fé é vermos aquilo em que acreditamos”.

“É um momento muito importante para quem é filho da terra. A gente sente orgulho de ser assaiense. É muito gostoso a gente voltar à terra natal e prazeroso participar desses momentos. Acho muito importante a gente poder saber e conhecer um pouco das nossas raízes, da nossa história”, disse Hiraiwa.

Emoção 2 – Presidente da Fundação Kunito Miyasaka, instituição sediada em São Paulo, cujas raízes remontam o Banco América do Sul, o também assaiense Roberto Nishio lembrou que foi funcionário da instituição durante 36 anos, mas não teve oportunidade de conhecer nem conviver com o homenageado, “pois ele faleceu em 26 de outubro de 1963, apenas um ano após a minha chegada a São Paulo”.

“Tive acesso, porém, a muitas matérias sobre a história da imigração japonesa no Brasil e posso afirmar, com convicção, que o senhor Carlos Yoshiyuki Kato foi um dos importantes protagonistas desta história, repleta de sofrimento, sacrifícios, dores, resignações e resiliências. Mas, vitoriosa”, destacou Nishio, explicando que foi “exatamente no livro biográfico do senhor Kunito Miyasaka que encontrei as maiores referências e os maiores elogios ao senhor Yoshiyuki Kato”. 

“E também descobri  a razão do nome Carlos, decorrente de sua conversão ao catolicismo”, disse Nishio, que não conteve as lágrimas ao agradecer as figuras de Yoshiyuki Kato e Kunito Miyasaka.

Netos, prefeito, vice-prefeito, vereadores, amigos e convidados durante sessão solene de entrega do Título de Cidadão Honorário de Assaí a Carlos Yoshiyuki Kato

Valeu a pena – “Valeu muito a pena ter voltado para Assaí depois de 62 anos para participar desta cerimônia em homenagem. Voltarei para São Paulo com orgulho muito maior de ser assaiense”, disse Nishio, explicando que considerou a homenagem “notável” pelo fato de trazer à lembrança e apresentar às novas gerações vultos que, em épocas passadas e quase que anonimamente, foram importantes em nossas vidas e na história da cidade de Assaí que, fundada em 1º de maio de 1932, teve origem na fazenda Três Barras, cuja administração e assentamento de imigrantes japoneses estiveram sob a responsabilidade da Sociedade Colonizadora do Brasil, então dirigida por Carlos Yosiyuki Kato”.

Celebridade – Para o prefeito Tuti Bomtempo, o homenageado é uma “celebridade de Assaí”. “E ter aqui, na noite de hoje, um de seus netos para receber esse título, é de suma importância para poder imortalizar as pessoas que se dedicaram a vida em nossas cidades. Fico lisonjeado por este evento e pela oportunidade de vangloriar aqueles que deram a sua vida pela nossa cidade”, destacou o prefeito. 

Ao Nippon Já, o chefe do executivo destacou a importância da homenagem. “É uma forma de resgatar as nossas origens. É muito importante o que está acontecendo na noite hoje porque normalmente só se concede um título de cidadão às pessoas em vida. E resgatar o nome de um dos fundadores, o qual nós temos uma avenida chamada Carlos Kato aqui, para nós é uma grande alegria, pois sabemos a dificuldade que a colônia japonesa atravessou para que Assaí pudesse ser fundada”, destacou Tuti Bomtempo.

Para a vereadora Sandra Maria de Souza, homenagear Carlos Yoshiyuki Kato é também uma forma de contar a história de Assaí. “Ele deixou um legado muito rico aqui para nós”, justificou a vereadora, acrescentando que a história de Assaí está diretamente ligada à história da imigração japonesa. 

“Até hoje temos fortes influências dessa imigração, seja no comércio, seja nas festas, seja na culinária e na cultura. Foi uma imigração que agregou muito para o nosso município e personalidades como o senhor Carlos Yoshiyuki Kato contribuíram para levar o nome de Assaí para os quatro cantos do mundo”, destacou a parlamentar, revelando que ficou muito lisonjeada em poder prestar a homenagem.

Emoção 3 – Para Reinaldo Yamada, neto do homenageado, a ideia de prestar uma homenagem ao avô, mesmo depois de tanto tempo, surgiu pela necessidade de se fazer um resgate da história e transmiti-la as novas gerações. “A preocupação surgiu quando o meu neto nasceu. Sou nissei, meu filho é mestiço, assim como meu neto. Então eu pensei: o meu neto precisa saber quem foi o avô dele. E como que a gente poderia passar a cultura japonesa para as futuras gerações? Achamos que a melhor forma de homenageá-lo seria fazendo um resgate da cultura japonesa”, explicou Reinado, que recebeu a homenagem em nome da família.

O neto espera que, com a homenagem ao seu avô, as pessoas possam refletir e debater mais sobre a história. “Ele deve estar muito orgulhoso com esta homenagem. E nós estamos felizes em lançarmos essa sementinha para que as pessoas possam repensar”, disse.

Para o seu primo e também neto de Carlos Yoshiyuki Kato, Maurício Horita, que estava acompanha da esposa, Ângela Horita, “com certeza o oditian estaria muito orgulhoso dos cidadãos de Assaí que ergueram essa sementinha que ele plantou”. “Ele estaria emocionado, como todos nós ficamos. Lembro quando minha mãe chegou no Brasil – ela devia ter uns quatro anos e a mãe do Reinaldo devia ter uns dois anos. Com pouco mais que isso ela ingressou no Colégio Rio Branco, que tinha umas quatro salas de aula e ficaram surpresas quando perceberam que a primeira coisa que meu avô fez foi ensinar o hino nacional brasileiro. Meu coração agora está mais próximo de Assaí. Eu tinha um pé no Paraná e não sabia o quanto meu avô tinha contribuído com essa história”, disse Maurício, visivelmente emocionado.

(Aldo Shiguti)

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