Que Star Wars é uma influência cultural, uma mídia de massa que engloba filme, televisão, livros, quadrinhos, brinquedos e muitas outras coisas, isso todo mundo já está careca de saber.
Enquanto muitas referências são apontadas em Star Wars, como antigos filmes de ficção científica – vide Flash Gordon e o livro Duna – e os combates aéreos da Segunda Guerra Mundial (em um filme de 1955, “Esquadrilha Heroica”, a cena de destruição da Estrela da Morte nasce aqui), existe uma influência muito sutil e até mesmo oculta que permeia toda a saga: a de cultura japonesa.
Aqui estão as cinco influências que o país oriental tem sobre o filme. Tentamos evitar o máximo de spoiler, mas com certeza terão algumas pequenas revelações:
1-Os Filmes de Akira Kurosawa
Não é segredo que George Lucas seja um grande fã do diretor japonês Akira Kurosawa. Muito já foi apontado sobre a semelhança entre os filmes A Fortaleza Escondida, de Kurosawa, e Star Wars: Episódio IV- Uma Nova Esperança.
Isso já foi muito falado. Mas a semelhança entre ambos é de se espantar. Ambos têm uma dupla atrapalhada envolvida numa aventura com uma princesa corajosa e um velho general, que foi interpretado pelo principal ator do Kurosawa, Toshiro Mifune, que foi cogitado para interpretar o Darth Vader na formação de elenco do primeiro filme.
E a conexão só se aprofunda. Lucas na década de 80, junto com Francis Ford Coppola, produziu “Kagemusha”, um filme do Kurosawa, que conta a história de um sósia de um senhor feudal afundado em jogos de poder. Essa história também inspirou as outras obras da saga, como a série animada The Clone Wars, onde na quarta temporada do quarto episódio, chamado de “O Guerreiro das Sombras” (que também pode ser traduzido em japonês como Kagemusha), trazia um personagem fazendo papel de sósia.
O filme mais famoso do diretor, O Sete Samurais, foi uma das inspirações para o episódio “Santuário” da primeira temporada do seriado “O Mandaloriano”. Se escondendo da guilda, Mando lidera um bando de mercenários para combater saqueadores que planejam atacar uma vila. Uma história muito parecida com o filme dos samurais. E indo além, o próximo trabalho do diretor Zack Snyder, Rebel Moon, que era um projeto de Star Wars, tem uma premissa parecida.
2-O Lobo Solitário
O Lobo Solitário é uma mangá produzido de 1970 até 1976. Também sendo adaptado para inúmeros filmes (que foram editados e relançados no exterior como “Shogun Assassin”) e séries de tv, a história é sobre um samurai chamado Ogami Itto, que foi acusado injustamente e que é obrigado a fugir com o seu filho Daigoro.
As similaridades com “O Mandaloriano” são bastantes. Sendo o Baby Yoda, o filho Daigoro. Embora no mangá não existissem poderes supernaturais, o filho do samurai também atraía muita briga. Tem uma cena da série O Livro de Boba Fett, onde Luke Skywalker oferece ao Baby Yoda a escolha de viver como um jedi ou ficar com o herói, que é uma alusão ao filme do Lobo Solitário.
3-Samurai e Bushido
Existe uma comparação entre os Jedis e os samurais. Ambos seguem um código de vestimenta que parecem quimono, e o próprio capacete do Darth Vader e sua espada também são uma inspiração. O código Jedi, que lembra muito o budismo, procura se afastar do apego e enfatizar a compaixão. Assim como proíbe matar oponentes desarmados e procurar a paz na sua morte. Isso foi visto na cena de Obi-Wan Kenobi se sacrificando no duelo com Darth Vader em “Star Wars: Episódio IV”.
Por outro lado, o samurai segue o bushido, que enfatiza a coragem, misericórdia, honra, sinceridade e autocontrole entre todos os valores. Um samurai sempre está preparado para morrer. Apesar disso, nem todo samurai é um exemplo de virtude. O Sith é uma espécie de ronin, um samurai sem mestre. Outro exemplo é o que Lawrence Kasdan, co-roteirista do Império Contra-Ataca, falava que Boba Fett era um “mau samurai”.
Boba lutava com inimigos ninjas no primeiro episódio da sua série. Ele tem um estilo ronin que o fazia trabalhar apenas por dinheiro — como Toshiro Mifuni em Yojimbo, outro clássico de Kurosawa.
4-Kendo
A arma do Jedi é a sabre de luz (ou lightsaber em inglês). Uma arma elegante de um tempo civilizado, como Obi-Wan contou para Luke. A lightsaber lembra uma espada samurai, mas a sua influência vai além da aparência visual. O estilo de luta jedi vem do kendo.
Apesar dos três filmes originais terem um forte estilo de esgrima nas coreografias de sabre de luz, para deixar mais dinâmico as cenas de ação, o dublê coordenador, Nick Gillard, se apoiou diretamente no estilo de luta do kendo.
No documentário Star Wars: Evolution of the Lightsaber Duel, ele diz: “A minha base foi o kendo.”
Ele também aponta que no Star Wars: Episódio II – O Ataque dos Clones, “A luta entre Anakin e Dooku foi kendo”. Se você assistir a luta, irá enxergar o modo do kendo sendo usado.
Ray Park, que atuou como Darth Maul na Ameaça Fantasma, é um artista marcial de wushu acostumado a lutar com uma mão. Ele teve que se adaptar no filme para lutar com uma lightsaber com duas pontas, que exigia o uso das duas mãos, uma prática do kendo.
5-A Língua Japonesa
Até a língua japonesa influenciou a franquia. A palavra “Jedi” não é uma palavra em si japonesa, mas muitos dizem que é derivada da palavra jidaigeki, que é teatro de época em japonês. Sendo um cinéfilo e cineasta, é bem possível que George Lucas tenha tido contato com essa palavra no seu período de universitário.
Outra possível palavra japonesa é o nome do mestre do Luke, Obi-Wan Kenobi. Obi significa cinto, enquanto Ken significa espada. Wan pode ser baía, mas também pode ser esticar. No entanto, não é possível afirmar que Lucas pensou na língua japonesa para montar essas palavras. Mas isso não quer dizer que não há nomes japoneses na franquia. Yoda é um sobrenome comum no Japão. O tradutor Hiroko Yoda já relatou que teve problemas em se cadastrar no Facebook com o seu nome real.
E para terminar, na recente série O Livro de Boba Fett, a palavra daimyo é usada para designar chefe do crime, sendo que a palavra significa senhor feudal em japonês. Vimos que o uso das palavras não é tão ‘correta’ assim. Poderia se usar a palavra oyabun para um senhor do crime. Mas mesmo assim, é perceptível saber em qual país os roteiristas se inspiraram para fazer a série.
*** Extra: Veja alguams cenas que remetem diretamente a filmes japoneses
(Tiago Uehara)