Líder mundial, pulso firme e uma visão fora do comum. A rainha Elizabeth II tinha um enigmático poder sobre tudo aquilo que estava ao seu alcance. Ao mesmo tempo, sua personalidade tinha algumas peculiaridades típicas dos japoneses, como a discrição, organização e muito empenho nos projetos. Porém, a relação entre as duas nações passou por momentos tensos com a Segunda Guerra Mundial quando se tornaram inimigos.
Nesse sentido, membros das famílias reais de ambos os lados desempenharam um papel importante em reprimir o sentimento anti-japonês na Grã-Bretanha após o fim da guerra. E foi Elizabeth quem conseguiu contornar situações desconfortáveis, com sua típica elegância e habilidade de negociação.
A rainha conheceu o imperador japonês Hiroito quando ele visitou a Inglaterra em outubro de 1971. Nessa visita, durante o controverso giro pela Europa solicitada organizada pelo então primeiro-ministro Eisaku Sato, foi um tanto constrangedor, pois a população inglesa não tinham lçá simpatia pelos japoneses. Inclusive, objetos foram arremessados e insultos foram ouvidos.
Durante essa visita, a rainha tentou, durante um brinde no jantar, relativizar a negatividade em torno do imperador. “Não podemos fingir que o passado não existiu”, disse Elizabeth aos participantes, conforme relatado no New York Times . “Não podemos fingir que as relações entre nossos dois povos sempre foram pacíficas e amistosas. No entanto, é precisamente essa experiência que deve nos tornar ainda mais determinados a nunca deixar que isso aconteça novamente”.
Daí para frente, os laços comerciais e amistosos entre os dois países, de fato, alavancaram. Três anos e meio depois, Elizabeth foi recepcionada com honrarias no Japão e suas palavras selaram a colaboração e cooperação entre os dois países: “Também devemos continuar a desenvolver nosso comércio bilateral. Este foi e será o alicerce das nossas relações. A Grã-Bretanha tem uma indústria forte e de base ampla. É mantido vigorosamente na vanguarda da pesquisa e desenvolvimento científico. Então, temos muito a oferecer. Como grandes nações comerciais, a Grã-Bretanha e o Japão têm tudo a ganhar com laços comerciais e financeiros mais estreitos. E como comerciantes mundiais, também temos um forte interesse comum.”
A visita do casal real ao Japão, por outro lado, provou ser amplamente comemorada. Em comparação com a viagem do presidente dos EUA Gerald Ford em 1974, que exigiu mais de 160.000 policiais armados com armas de gás lacrimogêneo, o governo japonês destinou 50.000 para a rainha e Philip. Como ela era “a rainha”, o governo fez questão de cercá-la com um “esquadrão de cortesia de 2.400 membros”, 600 dos quais eram mulheres em uniformes mais “coloridos”.
Mais recentemente, a rainha também se comoveu e veio a público lamentar o assassinato do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, em julho deste ano. Em um comunicado assinado por ela mesma, afirmou que “minha família e eu ficamos profundamente tristes ao ouvir a notícia da morte repentina e trágica do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe. Tenho boas lembranças de conhecer o Sr. Abe e sua esposa durante sua visita ao Reino Unido em 2016. Seu amor pelo Japão e seu desejo de forjar laços cada vez mais estreitos com o Reino Unido eram claros”.
Com Tomie Ohtake – Assim como o Japão, o Brasil também recebeu a rainha Elizabeth apenas em uma ocasião. Era 2 de novembro de 1968 quando ela e o príncipe Philip desembarcaram no país, para uma visita às cidades de Recife, Salvador, Brasília, São Paulo e Rio. A agenda incluiu eventos com autoridades como o então presidente da República, Artur da Costa e Silva, segundo governante da ditadura militar, e visitas a locais históricos como o Monumento ao Ipiranga, em São Paulo, e o Mercado Modelo, em Salvador.
Mas foi em São Paulo que a comunidade nipo-brasileira foi representada durante a visita. Elizabeth participou da inauguração do MASP (Museu de Artes de São Paulo) e foi recepcionada pela artista plástica Tomie Ohtake (1913-2015), em um encontro que simbolizou a ligação entre Brasil-Reino Unido-Japão.