Professora Sônia Maria Bibe Luyten é condecorada pelo governo japonês

Diretor-geral da Fundação Japão, Daigo Tamura comanda o brinde na Cerimônia de Outorga de Comenda da Primavera à professora Sônia Maria Bibe Luyten – Aldo Shiguti

No dia 26 de julho, na residência oficial do Cônsul Geral do Japão em São Paulo, foi realizada a  Cerimônia de Outorga de Comenda da Primavera do 6º Ano da Era Reiwa à professora Sonia Maria Bibe Luyten.

Pioneira na área de pesquisa das culturas populares do Japão – foi a primeira pesquisadora a publicar artigos científicos vervado sobre o mangá japonês  –, Sônia Bibe Luyten foi condecorada com a Ordem do Sol Nascente, Raios de Ouro e Prata.

Trata-se de uma condecoração atribuída diretamente por Sua Majestade, o Imperador do Japão, aos indivíduos que contribuíram para a promoção das relações bilaterais entre o Japão e outros países ou para a divulgação da cultura japonesa nos seus países.

Estiveram presentes o desenhista, cartunista e empresário Maurício de Sousa – acompanhado de sua esposa, Alice Takeda –; o presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil, José Alberto Lovetro, mais conhecido como Jal; o presidente do Bunkyo – Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social, Renato Ishikawa; o presidente da Aliança Cultural Brasil-Japão, Eduardo Yoshida; a presidente da Comissão de Administração do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, Lidia Yamashita e o diretor-geral da Fundação Japão, Daigo Tamura, além de parentes e familares, entre eles a filha, Nathalie, e as netas, Sophia e Agatha.

Pontes culturais – Em seu discurso de apresentação, o cônsul destacou que “a dedicação da homenageada para o reconhecimento acadêmico do mangá contribuiu para a elevação desse gênero literário a um patamar internacionalmente prestigiado e intelectualmente respeitado”. “Suas pesquisas e publicações construíram pontes culturais acadêmicas dentro do Japão e no Brasil”, disse Toru Shimizu, lembrando que, “na década de 1980, quando temas da cultura pop ainda eram pouco abordados em debates acadêmicos no Brasil, “a professora Sônia Maria Bibe Luyten foi a primeira pesquisadora a publicar artigos científicos versando o mangá”.

“Seus artigos e livros fundamentaram a análise de j-pop no país, tomando-se referências nos campos científico e jornalístico. Como especialista na temática, tem realizado e ministrando aulas sobre mangá em eventos e universidades de todo o Brasil. Por meio de ensino e pesquisa, desenvolveu intercâmbio acadêmico e cultural em diversas instituições brasileiras e do exterior, como na Universidade de São Paulo, na Universidade Católica de Santos, na Universidade em Presidente Antonio Carlos, na Universidade de Estudos Estrangeiros de Osaka, na Universidade de Estudos Estrangeiros de Tóquio e na Universidade de Tsukuba”, explicou o cônsul, acrescentando que a professora também desempenhou um papel determinante na fundação da Associação Brasileira de Desenhistas de Manga e Ilustrações, a Abrademi.

Reflexões – Segundo Toru Shiizu, a cultura do manga é muito especial para o Japão e para o povo japonês, por muitos motivos. Dentre esses motivos, conta, está o fato de o mangá poder ser apreciado de diversas formas, seja como obras de arte, crítica social e apenas como entretenimento. “A criação de histórias, personagens e instalações envolventes é uma arte que poucas pessoas conseguem dominar e as boas obras não apenas proporcionam momentos de alegria e riso aos leitores, mas também os inspiram a refletir sobre as questões filosóficas e sociais presentes nas histórias. Por essa razão, no Japão, os escritores de mangá conhecidos como mangaka disfrutam de um respeito significativo, sendo chamados de ‘senseis’, devido a sua relevante contribuição cultural e intelectual.”

Espírito inovador – Quanto ao aspecto econômico, o cônsul disse que o Japão tem demonstrado um desenvolvimento dinâmico e sustentável ao longo das décadas. “Isso se deve principalmente ao aproveitamento das riquezas criativas e do espírito inovador e cultivados pelas várias gerações de japoneses a partir de recursos inesgotáveis, as ideias e a imaginação humana, que são matérias-primas também do mangá”, frisou Shimizu, lembrando que em 2023, as vendas de mangá no Japão atingiram cerca de 24,6 bilhões de reais, sendo o quarto ano consecutivo de recordes de vendas e demonstrando a importância da indústria do mangá para a economia nacional. 

O cônsul disse ainda que outro aspecto importante sobre o mangá é que para muitos estrangeiros, o mangá atua como porta de entrada para a cultura japonesa. “Muitos adultos e jovens afirmam que o seu primeiro contacto com a nossa cultura foi através do mangá, demonstrando o papel significativo dessas obras na educação da cultura japonesa”, frisou ele.

Intercâmbio – “Reconhecendo a relevância de todos esses aspectos, o governo japonês atribui grande importância à promoção do mangá. Desde 2007, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão realiza anualmente o Japan International Manga Award como objetivo de fomentar o intercâmbio cultural internacional e de conhecer os artistas que vêm contribuindo para a divulgação de arte do mangá em todo o mundo”,concluiu o cônsul.

Referência – Para o presidente da Associação Brasileira dos Cartunistas, Sônia Maria Bibe Luyten “sempre procurou ajudar pessoas a terem o brilho do conhecimento nos olhos”. Jal lembrou que o seu estudo, que foi seu trabalho de doutorado na USP, Universidade de São Paulo, virou o livro ‘O Poder do Mangá’ e é considerado a principal obra sobre o assunto publicado fora do Japão.

Diretor-geral da Fundação Japão, Daigo Tamura comanda o brinde na Cerimônia de Outorga de Comenda da Primavera à professora Sônia Maria Bibe Luyten

Subcultura – Para Francisco Noriyuki Sato, um dos fundadores e atual presidente da Abrademi, a contribuição da professora Sônia Maria Bibe Luyten para tornar o mangá conhecido como é hoje, se deveu bastante ao fato de ela elevar o mangá como um aspecto da cultura japonesa, “porque até então a própria coletividade nipo-brasileira não considerava o mangá como um instrumento de cultura. 

“Ou seja, era uma subcultura, digamos assim. Tanto que as próprias escolas de japonês não permitiam que os alunos lessem mangá porque achavam que aquilo prejudicava o aprendizado”, conta Noriyuki Sato, explicando que “existia um certo preconceito”.

“O fato dela levar essa discussão para o lado acadêmico, elevou bastante o nível de pesquisa porque o próprio Japão não considerava tanto como algo estudável porque é uma coisa tão popular, tão comum para eles, por isso que ele desenvolveu bastante mesmo o Japão”, explicou Sato, lembrando que a própria Abrademi, na sua origem, teve desde o começo a participação da pesquisadora, o que acabou valorizando a associação.

Gratidão – Em seu discurso, Sônia Maria Bibe Luyten disse que seu sentimento era de gratidão e que “o pesquisador, ao querer fazer algo inédito, torna-se um ser solitário”. Segundo ela, ao iniciar um trabalho que não está dentro da linha de investigação do seu orientador, da linha de investigação, da programação oficial do curso e que é desconhecido, de repente as portas começam a se fechar no seu caminho”.

E que durante sua caminhada, abriu algumas janelas onde encontrou apoio fora do seu ambiente de trabalho. Em especial, citou seu marido, doutor Joseph Luyten, também pesquisador e professor que “tinha o mesmo problema que eu, na década de 1970”.

“Nós éramos uma dupla de persona não grata da Universidade. Ele, holandês, investigando cultura popular, literatura de cordel, e eu, brasileira, descendente de italianos, cultura pop japonesa, mangá e animê”, disse, explicando que “a outra janela, com muito apoio, foi a comunidade nipo-brasileira, que entendia o que eu estava falando”.

“Com isso, as portas dos jornais nikkeis se abriram para mim, e eu escrevi muitas matérias sobre o assunto”, frisou. Segundo ela, desde a sua volta ao Brasil, na década de 2000 até hoje, encontrou um volume considerável de artigos, de livros, de blogs sérios, teses sobre cultura pop japonesa e “vi que as sementes dos anos 1970 que comecei a espalhar cresceram e deram frutos maduros”.

(Aldo Shiguti)

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