Pela estrada afora: a saga desafiadora de uma brasileira que dirige um caminhão no Japão

Ao volante, sempre com um sorriso no rosto e determinação

COLUNA SOCIAL – POR DANIELA NISHIKAWA

Existe mulher caminhoneira no Japão? Poucas, mas existem. Contextualizando um pouco, por aqui no Brasil, historicamente, a primeira mulher ao volante de um caminhão foi Tia Neiva, no início da década de 1950. Desde então, as melhores rodovias do país se estenderam como um tapete para receber tantas outras profissionais com o mesmo objetivo. 

E, atualmente, o percentual gira em torno de 6,5% do total de pessoas habilitadas — pouco mais de 180 mil mulheres caminhoneiras no Brasil. No Japão, mulheres ao volante de um caminhão são situações difíceis de se deparar no cotidiano. Porém, nesse pequeno universo, uma se destaca (e nos enche de orgulho): a brasileira Karina Campos, que está na boleia há anos em uma profissão repleta de desafios – de trânsito, preconceito e até assédio. 

Ela reside em Mie-ken e está no Japão há 33 anos. Mãe de três filhos, Karina teve uma vida típica dos brasileiros residentes por lá, trabalhando em fábricas. Mas, há seis anos, a vida profissional deu uma guinada, após o convite do irmão para trabalhar na transportadora dele. À época, ela estava ocupada com a maternidade da filha caçula, nascida há pouco tempo. 

“Como eu já tinha a carteira (de habilitação) de 4 tonelada, comecei com caminhão pequeno e, após três anos, tirei a tão sonhada Oogata, que permite dirigir veículos de 10 toneladas. Logo comecei a viajar à noite com o caminhão de 10T, sofrendo um pouco por conta das ruas estreitas. Mas nada que me impedisse de continuar nessa nova jornada”, relembra Karina.

Karina Campos com o inseparável caminhão viagens longas

No exercício da profissão, o fato de ser mulher pode trazer riscos, como preconceito e assédio? Para Karina, as adversidades existem, contudo, o equilíbrio e controle emocional são primordiais para dirigir com atenção e foco, bem como cumprir os objetivos. “Às vezes ainda existe o preconceito por ser mulher e estrangeira, mas na maioria das vezes somos elogiadas. O assédio é pouco, porém existe como em qualquer outro lugar. Já aconteceu comigo e eu finjo não entender. Como trabalho com 90% do sexo masculino, temos que ter a ginga brasileira para sair de algumas situações”, explica a caminhoneira.

Mãe de Giovana (22), Enzo (16) e Victoria (6), Karina só se preocupa em conciliar o tempo de serviço com os horários da caçula. Como viaja à noite, deixa a pequena com os avós e, à tarde, busca na creche. Para a caminhoneira, a rotina é tranquila. “Amo meu trabalho, a liberdade. Passamos alguns perrengues típicos da profissão, como não ter lugares certos para parar para ir ao banheiro ou tomar banho. Mas, já me acostumei”, define ela, sempre com um sorriso.

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