OPINIÃO: Uma exposição sem vítimas, por Mario Jun Okuhara

Um importante resgate da memória durante a Segunda Guerra Mundial foi aberta ao público no dia 26 de abril, às vésperas de se completar 1 ano do pedido oficial de desculpas do Estado brasileiro aos imigrantes japoneses e seus descendentes. A exposição “Raízes de Perseverança – A comunidade japonesa do Brasil nos tempos da Segunda Guerra Mundial” foi organizada pelo Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil em parceria com a Universidade de Victoria do Canadá para o projeto “Past Wrongs Future Choices”. Fui atraído pelo release da exposição, que diz o seguinte:

“Essa história é uma analogia para nossa época. As preocupações com a segurança nacional continuam a se entrelaçar com o racismo. Os direitos humanos e civis de alguns ainda contam mais os do que outros. Devemos aprender com a história ao combatermos o racismo e lutar por sociedades mais justas.”

Confesso que esperava encontrar um conteúdo mais esclarecedor sobre as injustiças sofridas pelos imigrantes japoneses e seus descendentes no Brasil e no Canadá. O que encontrei no dia foi uma exposição iconográfica, inaugurada com discursos meritocráticos.

Resumindo: um bom guia cronológico para entender os principais episódios sem muita profundidade. Nada além da narrativa que o museu apresenta desde o seu surgimento em 1978. A questão do racismo, destacada no release, foi amenizada num dos painéis para “preconceito e discriminação”. Não é a mesma coisa, embora os termos estejam relacionados. Na realidade, houve racismo institucionalizado, perseguição política, repressão e cerceamento de direitos dos imigrantes japoneses.

A exposição “Raízes de Perseverança” no Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil

A superação da comunidade nipo-brasileira, à custa de muitas perdas e prejuízos durante e após a Segunda Guerra Mundial, é notória. O desconhecimento é sobre a gravidade da violência enfrentada por esta minoria racial no Brasil. Ainda assim, a exposição “Raízes de Persistência” tem um papel expressivo num país que pouco valoriza a memória. Alguns documentos expostos dão uma noção do drama vivido pelas famílias e ajudam a desvelar o caso do Decreto-lei nº 4.166 de 1942, que culminou na expulsão de 6.500 pessoas da cidade de Santos em 1943. Aliás, a pesquisa coordenada pelo Professor Akira Miyagi da Associação Okinawa do Brasil, poderia fazer parte dessa exposição, em razão dos valiosos depoimentos dos sobreviventes do episódio do litoral paulista. São os mesmos depoimentos que fundamentaram o pedido de retratação do governo brasileiro aos imigrantes japoneses no dia 25 de julho de 2024.

“Raízes de Perseverança” é uma exposição sem vítimas, sem dor.

Sem as vozes daqueles que sofreram as violações, o passado é transformado em mero folclore. A história se torna inofensiva, acomodada, como se o racismo institucionalizado tivesse sido apenas um contratempo superado — e não a violência profunda que deixou marcas ainda presentes nos estereótipos e na injúria racial.

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