Por Rosa Miyake
Juntei-me às mais de 80 mil pessoas que assinaram o abaixo-assinado criado na plataforma Change.org por Keiichi Aoyama da província de Fukuoka contra a gravadora New Century Records, que lançou um CD póstumo da cantora Aki Yashiro com fotos de nudez sem o seu consentimento. Trata-se do álbum “Wasurenaide” lançado um ano e meio após seu falecimento, reunindo 10 canções (incluindo “Funa Uta” e “Ame no Bojyou”) e fotos íntimas como “bônus”.
Fiquei profundamente chateada com a notícia e indignada com a postura vergonhosa da gravadora. Haveria outra explicação senão lucrar com essas fotos?
Pois, bem, entrei no site da gravadora para verificar o produto que continua à venda, apesar dos protestos. O bônus são duas fotos de nudez completa, tiradas com uma câmera Polaroid por um diretor da Teichiku Records (primeira gravadora da artista), com quem Aki Yashiro morava quando tinha 24 anos de idade. Ou seja, são fotos privadas sem qualquer cunho comercial que foram posteriormente adquiridas pela New Century Records.
O anúncio do CD com as fotos gerou revolta entre fãs, personalidades e políticos. O governador de Kumamoto – província natal de Aki Yashiro – repudiou o lançamento, classificando-o como “pornografia de vingança”, referindo-se ao ato de compartilhar imagens íntimas sem o consentimento da pessoa. Há, inclusive, uma discussão jurídica em curso sobre os direitos de imagem das fotos e a empresa que representa o legado de Aki Yashiro informou que tomará providências para proteger sua dignidade. Apesar de gigantes como a Tower Records terem vetado a venda do produto em suas lojas, o CD “Wasurenaide”, com as fotos, continua sendo comercializado na internet. Não entendo de questões jurídicas, mas posso atestar sobre a integridade da “rainha do Enka”.

Aki Yashiro esteve no Brasil por duas vezes, em 1983 e 2011. Nos aproximamos e cultivamos uma linda amizade por mais de 40 anos. Não é justo que, após uma vida inteira de dedicação à música e ao público, ela seja exposta dessa forma, reduzida a uma mercadoria por interesses comerciais. Sua trajetória sempre foi marcada pela sua voz inconfundível e talento inquestionável – jamais pela exploração da sua imagem de maneira vulgar ou sensacionalista. Ela é um patrimônio cultural do Japão e da nossa comunidade nipo-brasileira.
As fotos, tiradas em um momento íntimo e privado da juventude, não foram feitas para o público. Usá-las agora, sem seu consentimento e post mortem, é uma afronta à sua dignidade e um desrespeito à sua memória. A gravadora ultrapassou todos os limites éticos e morais ao lançar um produto póstumo que beira a morbidez.
Aki Yashiro foi uma mulher generosa, sensível, gentil e extremamente dedicada ao público e aos vulneráveis. É doloroso pensar que, mesmo depois da morte, sua memória não esteja sendo respeitada. Mais doloroso ainda é ver que a gravadora ignora completamente a dignidade humana em nome do lucro.
Até hoje o povo chora, sente saudades de tantas alegrias que ela deixou em nossos corações. Aki Yashiro sempre será a nossa diva. Ninguém conseguirá apagar o brilho que ela irradiava. Exijo que a gravadora retire imediatamente esse álbum de circulação para que a memória de Aki Yashiro seja preservada com a honra e o respeito que ela merece.
Que a sua linda voz continue ecoando, agora, para buscar Justiça.