“O Mangaká da Favela”: A História de um Sonho que Transcende Fronteiras

“O Mangaká da Favela”

A Webcomic “O Mangaká da Favela”, com roteiro de Shohachi Hagimoto e ilustrações de Taruji Minoru, tem conquistado o público brasileiro. A história, que já conta com cinco episódios publicados até o dia 27 de novembro, aborda a vida de um jovem japonês que, após desistir de seu sonho de se tornar mangaká (quadrinhista), encontra um garoto brasileiro em uma favela de São Paulo. Juntos, eles decidem seguir o mesmo caminho e lutar para realizar o sonho de se tornarem mangakás. A entrevista por e-mail com o responsável pelo roteiro, Shohachi Hagimoto, revelou os sentimentos e a paixão que ele colocou em “O Mangaká da Favela”.
Desde seu lançamento, a obra tem gerado grande repercussão no Brasil, especialmente entre os fãs de mangá. O cenário da favela, retratado com sensibilidade e realismo, atraiu a atenção de leitores brasileiros e foi destaque em diversos meios de comunicação do país, como UOL, Jovem Nerd e JBox. A recepção tem sido positiva, com muitos leitores destacando o cuidado na representação da realidade brasileira. Alguns expressaram até orgulho por ver uma obra que aborda o Brasil ser criada fora do país, com uma pesquisa detalhada sobre a cultura local.
Shohachi Hagimoto, o roteirista da série, é conhecido por seu trabalho em outras obras, como Asperger-kanojo (2018, Kodansha), mas nunca visitou o Brasil pessoalmente. A conexão com o país, no entanto, surgiu por meio das redes sociais, onde Hagimoto fez amizade com brasileiros.
Através desses contatos, ele foi inspirado a criar uma história que refletisse a realidade das dificuldades enfrentadas por muitos jovens brasileiros, especialmente aqueles que vivem em favelas e sonham em seguir carreiras criativas, como a de mangaká.

O roteirista Shohachi Hagimoto

A escolha de ambientar a história na favela foi influenciada por um impacto profundo que Hagimoto teve ao assistir ao filme Cidade de Deus, recomendado por um amigo brasileiro. “Embora seja uma obra com elementos ficcionais, a maneira como a realidade da favela é retratada no filme teve um impacto tão grande que me fez pensar ‘eu também quero retratar isso!’ Além disso, pensei que, ao escolher uma favela como cenário, poderia despertar o interesse dos leitores japoneses, e também acreditava que isso ajudaria a superar as rigorosas exigências das editoras de revistas comerciais”, explicou.
Shohachi Hagimoto pesquisou sobre o Brasil por meio da internet e livros, mas no final sempre contou com a ajuda de seus amigos brasileiros para confirmar as informações e até recebeu fotos. Alguns desses amigos moram em favelas. “Eles são tão dedicados que, para cada pergunta, me respondem com 10 ou 20 respostas. São os melhores colaboradores que eu poderia ter”, afirmou.
Quanto ao desenvolvimento futuro da trama, Hagimoto afirmou que não pretende simplificar as dificuldades da realidade dos personagens. “Não quero tratar os desafios de forma otimista demais. Tornar-se um criador profissional é difícil, e sair da pobreza também é um processo longo e complicado. Quero mostrar como os personagens enfrentam essas dificuldades e, talvez, nem sempre consigam superá-las”, disse.
Além disso, os leitores brasileiros têm sugerido que a história se expanda para outras regiões do Brasil, como a Bahia e Minas Gerais, e Hagimoto revelou que tem interesse em explorar essas novas localidades, mas ressaltou que isso dependerá do sucesso da série. “Quero continuar com todo o meu empenho e dedicação nessa obra. Espero que os leitores sigam apoiando e acompanhando a história”, concluiu.
“O Mangaká da Favela” pode ser lido no site de webcomics comic HOWL (https://ichijin-plus.com/comics/157030278988266).

Coluna Comentários do sabiá

Durante o processo de criação de “O Mangaká da Favela”, Shohachi Hagimoto teve a oportunidade de se aprofundar na cultura brasileira. Ele se surpreendeu com a forte presença da comunidade nipônica no Brasil, além do intenso amor dos brasileiros pelas suas raízes e tradições. Hagimoto também se encantou com a culinária brasileira, como a famosa coxinha, e se tornou fã de séries como “Cidade dos Homens”, exibida pela TV Globo. Ao ler o mangá “Sense Life”, do artista brasileiro Caio Ulisses, Hagimoto se impressionou com a criatividade das ilustrações, embora não tenha compreendido totalmente os diálogos. Ele acredita que, se existisse uma versão em japonês, recomendaria o aos leitores do Japão. As expectativas para a continuidade da obra e o fortalecimento do intercâmbio cultural entre os mangás do Japão e do Brasil são grandes, tornando “O Mangaká da Favela” um importante marco nesse processo de troca entre as duas culturas.

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