Nausicaä, a primeira protagonista feminina “fora da curva”

Os filmes de animação do Studio Ghibli são conhecidos mundialmente por sua técnica, linguagem elaborada e por seu roteiro envolvente que encanta pessoas de diversos países e de todas as idades. E como se isso não bastasse, a representatividade feminina pelas protagonistas que não seguem o padrão das “princesas da Disney” tem chamado a atenção.

Do total de 26 obras do Studio Ghibli (inclusive curta metragens), 14 têm personagens femininas como protagonista, sendo aproximadamente 54% de tudo que foi produzido pelo estúdio. E mesmo as obras com protagonista masculino, as personagens femininas são bem desenvolvidas e representadas com autonomia e independência (como no caso da Princesa Mononoke). É um destaque importante considerando a predominância de heróis masculinos e da desvalorização de personagens femininas e secundárias na indústria cinematográfica em geral, não se limitando somente aos filmes de animação.

Quando voltamos a história para analisarmos os paradigmas das protagonistas femininas em animações japonesas (animê), é notável a influência do cenário social da época.

As obras “Sally, a Bruxa” (Mahōtsukai Sally)  e “O segredo de Akko-chan” (Himitsu no Akko-chan), transmitidas entre as décadas de 60 e 70, são dois animês clássicos e populares. Principalmente a Akko que ganhou 4 temporadas de animê em diferentes períodos, também ganhando adaptação em teatro, dorama (novela japonesa) e filmes (animação e live action). Mas o padrão que essas protagonistas Sally e Akko seguiam eram o mesmo das “princesas da Disney”. Esses e mais outros animês da época que apresentavam protagonistas princesas (e quando não era, se transformava em uma através de magia) e com o sonho de se casarem com um príncipe encantado.

Nessa época, o Japão passava por um alto desenvolvimento econômico, exigindo que homens e mulheres assumissem papéis diferentes. O papel do homem era trabalhar e o da mulher era ter filhos e cuidar da casa. Até as escolas eram obrigadas a seguirem um plano pedagógico que preparassem as crianças para esses papéis: meninos tinham aula técnica sobre alguma área específica e as meninas tinham aula de culinária e/ou costura. Sally e Akko retratavam muito bem o papel social que era imposto às mulheres japonesas.

Já a protagonista da obra “Nausicaä do Vale do Vento” do Studio Ghibli, dirigido por Hayao Miyazaki, lançada em 1984, apresenta características bem distintas de uma “princesa”. Aliás, ela é a rainha do seu reino, mas não fica só sentada em seu trono. Ela mesma vai na linha de frente de uma batalha e comanda toda a tropa constituída por soldados homens. É uma personagem valente e independente. O surgimento dessa nova protagonista foi influenciado pelos movimentos feministas que estavam ganhando destaque no Japão na década de 80 e pela implantação de uma nova lei que protege a igualdade e oportunidades de emprego entre homens e mulheres.

Desde então, o Studio Ghibli tem criado protagonistas que inspiram o público feminino, causando sensação de proximidade e identificação. Pode-se dizer que isto é resultado do comprometimento e da preocupação que o diretor Hayao tem em retratar a evolução de uma menina para uma mulher adulta de uma maneira real, consequência da admiração e respeito que ele tem pelas mulheres.

Confira abaixo a lista das produções do Studio Ghibli e seus respectivos protagonistas: