Subcultura: Museu de bonecas sensuais em Tóquio atrai atenção de turistas estrangeiros

Yashio Hihokan – Divulgação

O Japão, conhecido por suas subculturas peculiares, agora se destaca com um museu singular, onde um homem transformou sua modesta residência de dois andares em um espaço exclusivo para suas “love dolls.”

Localizado nos arredores de Tóquio, o “Yashio Hihokan,” que se traduz aproximadamente para “Museu Adulto Yashio” em inglês, exibe meticulosamente a coleção pessoal de Yoshitaka Hyodo, composta por bonecas realistas em diversas poses e trajes. A residência não se limita às bonecas, abrigando também uma variada seleção de objetos eróticos, exposições curiosas e antiguidades.

Com 49 anos, residente nos subúrbios de Yashio, na província de Saitama, Hyodo, que vive sozinho, relata em seu blog o fascínio de toda uma vida por ciborgues e formas de vida artificial. Sua casa se tornou um “tesouro” que reflete essa paixão.

A trajetória de Hyodo como colecionador de bonecas começou há mais de duas décadas, quando encontrou um manequim em um terreno abandonado. Essa descoberta despertou nele o desejo de cercar-se de bonecas, levando-o a adquirir ao longo do tempo cerca de 50 delas, incluindo tanto bonecas sexuais quanto manequins, além de outros modelos anatômicos distintos.

Segundo Hyodo, aproximadamente metade de sua coleção de “love dolls” foi adquirida por compra, enquanto o restante provém de conhecidos que não mais necessitavam desses itens, seja por motivo de casamento, cuidado com os pais, ou outras razões.

A maioria das bonecas sexuais de Hyodo provém da Orient Industry, uma empresa de Tóquio especializada na produção de brinquedos adultos de alta qualidade desde 1977. Estas bonecas, conhecidas por seus corpos realistas, representam um investimento significativo, podendo atingir a cifra de 700.000 ienes (aproximadamente US$ 5.000).

Anteriormente um fotógrafo especializado em retratar “love dolls” em diversas configurações, incluindo ambientes abandonados, as obras de Hyodo foram exibidas em Paris e Tóquio. Um documentário sobre sua vida foi lançado em cinemas selecionados do Japão em setembro do ano passado.

Em 2021, Hyodo fundou a “Dai Nippon Rabu Dooru To” (A Grande Festa das Bonecas de Amor do Japão) com o intuito de combater o Tokyo Deep Annai, um site que, segundo ele, propagava percepções negativas sobre a cidade de Yashio com críticas infundadas, e uma importante emissora de televisão, que, de acordo com Hyodo, criou narrativas falsas sobre sua pessoa em um documentário.

Essa experiência deixou Hyodo desconfiado da indústria de radiodifusão privada e solidário a Hana Kimura, integrante do reality show “Terrace House,” que cometeu suicídio em 2020 após ser alvo de mensagens abusivas nas redes sociais.

Yashio Hihokan – Divulgação

Hyodo, que enfrentou várias situações perigosas ao longo da vida, desde conflitos de yakuza aos 14 anos até problemas cardíacos e complicações de saúde recentemente, acredita que sua vida tomou um rumo significativamente positivo desde que abriu sua casa em 2015 para compartilhar sua coleção de bonecas. Neste ano, espera receber cerca de 300 visitantes.

Com o “Yashio Hihokan” chamando a atenção mundial, Hyodo relata um aumento no número de visitantes estrangeiros desde o levantamento das restrições de fronteira devido à COVID-19. Pessoas intrigadas de mais de uma dúzia de países, incluindo Estados Unidos, China, Antígua e Barbuda e Ucrânia, já visitaram o museu. Recentemente, uma equipe de filmagem de um programa de televisão de Hong Kong também esteve no local para produzir um documentário.

Joe McReynolds, um estudioso americano de estudos urbanos na Universidade Keio, visitou o museu de Hyodo pela primeira vez em novembro de 2019 durante o “Blade Runner Day”, ocasião em que fãs se reuniram para celebrar o famoso filme de ficção científica dirigido por Ridley Scott, que inspirou esteticamente o museu.

McReynolds destaca o interesse em estar em um espaço que reflete singularmente a visão peculiar de um homem. Ele destaca que, embora a “arte extrema” de Hyodo possa não ser para todos, a existência do museu por si só possui relevância, destacando que Tóquio é uma cidade onde um indivíduo com uma visão pessoal e peculiar para um museu individual pode incorporar essa visão na paisagem urbana para todos verem”, afirmou McReynolds.

Yashio Hihokan – Divulgação

Hyodo recebe visitantes estrangeiros e os convida a experimentar o que ele chama de “o ponto mais profundo da cultura japonesa”. Ele expressa gratidão pela oportunidade de interagir com pessoas ao redor do mundo, uma vez que sua condição de saúde o impede de viajar para o exterior.

McReynolds destaca que, embora a “arte extrema” de Hyodo possa não ser do agrado de todos, a simples existência do museu é significativa. Isso evidencia que “Tóquio é uma cidade onde um indivíduo com uma visão pessoal e idiossincrática para um museu pode incorporar essa visão na paisagem urbana para todos verem”, concluiu.

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