
Mesmo com as condições adversas impostas pela pandemia, as companhias nikkeis no Brasil prosseguiram suas atividades com resiliência. No atual cenário, onde a pandemia recua gradativamente, está nascendo a demanda por novos padrões de valor, que tem como objetivo alcançar a sustentabilidade, e é neste contexto que será introduzida a série de artigos “O Agora das Companhias Nikkeis no Brasil”. Nesta 12ª edição, conversamos com Toshiki Matsui, presidente da Cia. Iguaçu de Café Solúvel, uma das principais empresas de café do Brasil.
Perfil do Cia. Iguaçu | Nome oficial: Cia. Iguaçu de Café Solúvel Localização: Cornélio Procópio – PR Ano de fundação: 1967 (começou a receber investimento da Marubeni Corporation em 1972) Número de funcionários: 700 Atividade comercial: fabricação e venda de produtos relacionados ao café, como o café solúvel em pó (spray-dried), café solúvel liofilizado (freeze-dried), café solúvel granulado (aglomerado), extrato de café e óleo de café. |

O café brasileiro com raiz japonesa
A Cia. Iguaçu foi fundado em 1967 por meio de um investimento conjunto de grandes fazendeiros, incluindo o falecido Kunihiro Miyamoto (nascido em 1916, Província de Oita), um empresário e fazendeiro que imigrou para o Brasil em 1934 e administrava uma planta de beneficiamento e classificação de café e uma planta de beneficiamento de arroz com seus irmãos em Cornélio Procópio – PR. Miyamoto foi o primeiro presidente da empresa.
Desde que a Marubeni Corporation começou a investir na empresa, em 1972, ela expandiu sua escala de produção, bem como seus canais de vendas em todo o mundo, e continua envolvida na produção e venda do café solúvel, introduzindo uma variedade de tecnologias de ponta. Atualmente, a Cia. Iguaçu exporta 75% do seu café solúvel e destina 25% para o mercado interno. O café da empresa é apreciado em cerca de 50 países do mundo.



A busca pelo café que agrada o cliente
A Cia. Iguaçu produz três tipos de café solúvel: em pó (spray-dried), liofilizado (freeze-dried) e granulado (aglomerado). A empresa apresenta uma capacidade de produção anual de 23 mil toneladas de café solúvel. Enquanto a demanda por café solúvel em pó é forte no Japão, quase 70% do mercado brasileiro é dominado pelo café solúvel granulado. Os pontos fortes da Cia. Iguaçu são a sua instalação de produção que permite atender a demanda variada dos seus clientes, a capacidade de comunicação da sua equipe de P&D e a disponibilidade tecnológica da sua planta-piloto para concretizar a produção do produto planejado.
A capacidade da empresa de entregar produtos de qualidade garantida dentro do prazo, uma prática básica no Japão, é também uma das razões pela qual é valorizada pelos seus clientes, porque a principal matéria-prima são produtos agrícolas, sujeitos às grandes flutuações do mercado.
Empresa irmã em estágio inicial de atividade no Vietnã
Apesar das várias dificuldades encontradas durante a pandemia do coronavírus que teve início em 2020, o negócio da Cia. Iguaçu se manteve forte, sem redução da demanda e apoiado pelo consumo domiciliar. No entanto, com a posterior diminuição da competitividade internacional dos grãos de café brasileiros devido aos danos causados pela geada em 2021 e o declínio da exportação para a Rússia, segundo maior destino do café brasileiro depois dos EUA, devido à Guerra Russo-Ucraniana em 2022, o setor de café do Brasil passou por um período turbulento. Por outro lado, emergiram novos países exportadores de café solúvel, como o Vietnã e a Índia.
É necessário produzir produtos competitivos em termos de preço num contexto em que a inflação global leva os clientes a procurarem cada vez mais por café solúvel mais acessíveis. O Brasil é, de longe, o maior produtor mundial de café (35% da produção mundial) e dispõe de uma vasta variedade de cafés, desde arábica, de alta qualidade, até robusta, com competitividade em termos de preço, mas nem sempre consegue produzir o café mais barato do mundo. Então, a Marubeni decidiu produzir cafés de maior valor agregado no Brasil, enquanto estabelecia sua segunda fábrica de café solúvel, a Iguaçu Vietnam, no Vietnã, que tem 15% da produção mundial de café e possui competitividade em termos de preço. A Iguaçu Vietnam iniciou suas operações em 2022. Combinando as vantagens dos cafés brasileiros e vietnamitas com a tecnologia do Café Iguaçu, é possível responder a uma ampla gama de necessidades dos clientes, e o grupo como um todo consegue marcar ainda mais a sua presença na indústria global de café solúvel.
Na altura do lançamento da fábrica no Vietnã, oito funcionários chegaram a ser enviados do Brasil, pois a Cia. Iguaçu tinha acumulado anos de know-how e recursos humanos que poderiam ser aproveitados na nova fábrica. Quatro membros da equipe técnica ainda se encontram estacionados no Vietnã como gestores e líderes técnicos. Em conjunto com o início da operação no Vietnã, também foi produzido um novo logotipo universal para as empresas irmãs que entrou em vigor a partir de junho de 2022: “IGC”.
Contribuição para a comunidade local
A Cia. Iguaçu tornou-se em uma empresa que representa a cidade de Cornélio Procópio (cerca de 48.000 habitantes). Muitos funcionários da empresa possuem relação de parentesco do tipo pai (mãe) e filho (filha), irmãos (irmãs) ou casais, e existe uma solidariedade entre os funcionários da comunidade local, o que leva a um alto nível de fidelidade dos funcionários. Em 1992, quando Matsui chegou com a missão de gerenciar a empresa pela primeira vez, estava sendo introduzido o Movimento 5S (Seiri, Seiton, Seiketsu, Seisou, Shitsuke: arrumação, ordem, limpeza, higiene e disciplina. Este movimento 5S é característica das empresas japonesas) para celebrar o 25º aniversário de fundação da empresa. Quando iniciou a sua segunda missão em 2020, ficou profundamente impressionado ao verificar que os excelentes métodos japoneses estavam totalmente enraizados na empresa através da prática do Movimento 5S.
Com o objetivo de realizar uma gestão que valorize o meio ambiente e que se torne um modelo para a comunidade local, a empresa implantou uma caldeira a biomassa em 2009, reduzindo o uso de combustíveis fosseis, gerencia suas emissões atmosfericas além de realizar apresentações anuais para professores e jovens estudantes sobre o sistema de tratamento de seus efluentes industriais, ajudando a conscientizar as novas gerações sobre a importância da preservação ambiental e a sustentabilidade. O Café Iguaçu, amado localmente e amado em todo o mundo, é realmente um café solúvel resultante da parceria Japão-Brasil.
Entrevistadora: Tomoko Oura