Perfil da Brazil Food Service | Nome oficial: Brazil Food Service Representante Comercial Localização: São Paulo – SP Data de fundação: outubro de 2013 Número de colaboradores: 9 Atividade comercial: desenvolvimento de novos negócios agropecuários na América do Sul, intermediador na exportação de aves e suínos brasileiros para o Japão, publicação do Boletim “Tópicos sobre a agropecuária na América do Sul” e desenvolvimento e importação/exportação de ingredientes para alimentos saudáveis entre a Ásia e o Brasil. |
Mesmo com as condições adversas impostas pela pandemia, as companhias nikkeis no Brasil prosseguiram suas atividades com resiliência. No atual cenário, onde os resquícios deixados pela pandemia recuam gradativamente, está nascendo a demanda por novos padrões de valor, que tem como objetivo alcançar a sustentabilidade, e é neste contexto que será introduzida a série de artigos “O Agora das Companhias Nikkeis no Brasil”.
Na 14ª edição, conversamos com Kenichi Kodera (66 anos, nascido na Província de Hokkaido), presidente da Brazil Food Service com 40 anos de experiência no setor de compra e exportação de carnes e produtos marinhos. Atua principalmente na Ásia e na América do Sul. Seu estabelecimento na América do Sul ocorreu há 34 anos e desde então vem desenvolvendo seus negócios no setor agropecuário.
A vontade de ir para o Chile e a chegada ao Brasil
A ligação de Kodera com a América do Sul remonta à sua juventude, quando era um alpinista entusiasta. Em uma expedição que tinha como objetivo escalar uma montanha do Himalaia com 6000m de altitude, foi forçado a desistir da missão quando faltava pouco até o cume, devido a uma grande tempestade. O sentimento de incompletude foi a motivação para que Kodera se juntasse à expedição para Patagônia, quando foi convidado pelos colegas após a formatura de ensino superior. Após seis meses a bordo do navio onde acumulou dinheiro e aprendeu espanhol sozinho, entrou no Chile e foi entrevistado pelas mídias locais numa cidade do interior. A notícia da chegada de japoneses foi alvo de entusiasmo na região, e a viagem de volta prevista para depois de dois meses de permanência no Chile, acabou prolongando. Durante sua estadia, Kodera trabalhou sob a direção de um empresário japonês estabelecido no Chile, e dedicou-se à venda de peças automotivas por todo o país. Foi o período em que desenvolveu o seu sonho de trabalhar na América do Sul.
Depois de regressar ao Japão, entrou na Tokyo Maruichi Shoji (TMS), que tem uma filial no Chile, e os seus cinco anos na empresa formaram a base do seu negócio atual. Dois meses depois de entrar na empresa, foi a uma ilha canadense para inspecionar e comprar shishamo (peixe) e, durante o regresso, em Anchorage, passou dois meses num barco-fábrica de salmão devido a uma decisão instantânea da empresa. Assim, Kodera foi aprendendo a aproveitar as oportunidades comerciais de forma flexível.
Depois disso, foi duas vezes à Coréia do Norte para comprar ovas de escamudo, que não eram produzidas em quantidades suficientes no Japão, e foi até Alasca embarcado no primeiro barco-fábrica destinado a longas expedições da China. Kodera gostava do trabalho, mas sempre vivia pensando na América do Sul.
Foi nessa altura que a Nippon Ham, um dos clientes da TMS, lançou um projeto de importação direta de produtos do território estrangeiro e perguntou a Kodera: “Queria trabalhar na América do Sul, não era?” e, com a compreensão do seu chefe, Kodera deixou a empresa para transferir-se para a Nippon Ham, onde trabalhou durante 15 anos como presidente da nova filial chilena da empresa e, mais tarde, também como presidente da filial brasileira.
Desenvolvimento de novos negócios através da inspiração e curiosidade
Em 1989, quando Kodera começou a sua missão no Chile, o Japão estava no auge da sua bolha econômica e a Nippon Ham estava concentrando seus esforços na importação de carnes estrangeiras, convicta de que “o Japão vai entrar na era da carne”. Kodera trabalhou no desenvolvimento de novos negócios como vanguarda da empresa na América do Sul. Esteve envolvido na produção e processamento de produtos marinhos chilenos e no desenvolvimento e compra de produtos como o Porco do Planalto Andino, o frango peruano e brasileiro, a carne bovina brasileira ajustada e a carne bovina uruguaia: tudo voltado para a exportação para o Japão. Mas, em 2003, a convite de um empresário do Chile com quem trabalhava no projeto de desenvolvimento de carne de porco, decidiu abrir, em 2004, a empresa Andes Foods no Brasil.
A Andes Foods desenvolveu intestinos de bovino brasileiro cozidos, a fim de servir como substituto aos produtos que foram proibidos de entrar no Japão após o surto da doença da vaca louca nos EUA. Exportava para Vietnã e China produtos como miudezas de suínos e bovinos do Chile, miudezas ajustadas de bovinos da Argentina, carne de pato do Brasil, entre outros. Além disso, a empresa esteve envolvida no negócio de importação de vinho e azeite chilenos para o Brasil e o Japão, e camarão do Equador para o Vietnã e a China.
O dia 8 de dezembro de 2012 marcou o fim dos dias de bom funcionamento do negócio: “ainda me lembro desse dia”. A NHK transmitiu a notícia de que “devido à suspeita de doença da vaca louca no Brasil, o Ministério da Agricultura, Floresta e Pesca do Japão suspendeu as importações”. Na ocasião, cinco containers que saíram do Brasil ainda estavam em alto-mar e não tiveram permissão para serem descarregados no porto quando chegaram ao Japão. Quando os containers voltaram ao Brasil, também não deixaram descarregar do navio sob a justificativa de que “o resultado da pesquisa da OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) comprovou não haver surto de doença da vaca louca no Brasil”. Os containers foram enviados novamente ao Japão, mas a postura da autoridade japonesa não mudou e, após uma viagem equivalente a cerca de quatro voltas sobre o Planeta Terra, os containers finalmente encontraram um lugar para serem descarregados, em Hong Kong, onde foi aceito com a condição de que os produtos contidos fossem de graça. Resultado: dispensa de 25 funcionários, e a amarga experiência de liquidação da empresa. Kodera lembra: ”Os membros seniores da Seiwajyuku brasileira me ajudaram muito na época”.
Partindo do Brasil, foco em todo o mercado asiático
“Se há deuses que abandonam, há também os deuses que acolhem”. Coincidindo com o fechamento da empresa, a importação de carne suína de Santa Catarina foi liberada pelo Japão em 2013. Isso fez com que importadores japoneses e canadenses visitassem o país para visitas de inspeção e para atuar como intermediários e consultores, o que levou à criação da Brazil Food Services S.A.
Nos últimos quatro ou cinco anos, o Japão vem perdendo em relação a outros países asiáticos na compra de carne de frango brasileira. Os importadores de outros países estão se tornando em clientes mais importantes para o Brasil, pois estão dispostos a pagar mais pelos produtos brasileiros, que vieram atendendo as rigorosas exigências dos comerciantes japoneses.
“Não há dúvida de que os regulamentos e requisitos de importação do Japão são rigorosos. Por outro lado, o Brasil corre sérios riscos se depender das exportações para a China, cuja economia é incerta. Atualmente, estamos com foco na exportação de carnes para o Sudeste Asiático também, levando em consideração até o processamento dos produtos primários nessa região para exportar novamente, tendo como destino o Japão.” Kodera continua acompanhando as últimas movimentações da pecuária na América do Sul.
Entrevista: Tomoko Oura