Heptacampeã brasileira, atleta Juliana Terao é esperança do Brasil em Olimpíada de Xadrez

Enxadrista desde os 4 anos, influência dos pais e irmão: Juliana Terao enfrenta rotina organizada, com treinos intensos e jogos que podem durar seis horas – Foto de Léo Mano – Divulgação

Atleta conta como valores japoneses, foco e persistência foram fundamentais para alcançar o topo

Já são quase 115 anos desde que os primeiros imigrantes japoneses chegaram ao Brasil. Atualmente, seus descendentes se destacam nos mais variados campos de atuação, até mesmo onde poucos conhecem. Um desses casos é o de Juliana Sayuri Terao, de 31 anos, nada menos do que a heptacampeã brasileira feminina de xadrez. Ela ganhou seu mais recente título no 61º Campeonato Brasileiro Feminino de Xadrez, ocorrido em Recife em dezembro do ano passado, com uma performance impressionante: 100% de aproveitamento, 9 pontos em 9 rodadas, e garantindo uma vaga na seleção brasileira da próxima olimpíada de xadrez, em 2024.

Esta será a sua oitava vez representando o Brasil na competição. A jovem, que nasceu em Suzano (SP) e onde mora até hoje, diz que o planejamento anda junto com a disciplina. Rotina essa que vem desde os 4 anos de idade, quando deu os primeiros passos na modalidade. Seu pai, um apaixonado pelo xadrez, primeiro ensinou o seu irmão mais velho, Rodrigo, fato que despertou interesse na irmã. Ela recorda que a família toda viajava junto quando o irmão participava de algum torneio. “Desde muito cedo meu irmão já se destacava nas categorias que ele participava ganhando muitos troféus. E aquela competição entre os irmãos, ‘eu tenho, você não tem’, me fez pedir para o meu pai: ‘eu também quero troféu’. Assim, ele me ensinou e comecei a jogar também”, conta ela relembrando o início da trajetória.

“Hoje meu irmão seguiu a carreira profissional como médico e já não joga mais, mas eu continuo jogando e me profissionalizei nisso”, conta Juliana, que até tentou experimentar diferentes áreas de atuação, cursando faculdade de Administração de Empresa e de Tecnologia da Informação (inclusive com bolsa integral, por jogar nos torneios de xadrez representando a universidade). Mas a sua aventura em outros campos só a fez ter ainda mais certeza do que queria para a sua vida: xadrez.

A atleta decidiu então direcionar todos os esforços para o esporte. Juliana tem os avós paternos nascidos no Japão e seus pais ainda são bastante ativos em eventos japoneses de Suzano. Tudo isso levou-a naturalmente a buscar conhecimento, ter persistência e um olhar mais abrangente.Foram os valores herdados e que  influenciaram na profissão. “Desde que eu e o meu irmão começamos a jogar xadrez, meu pai sempre colocou na nossa mente que devemos buscar o conhecimento além das questões materiais”, conta a enxadrista que já viajou cerca de 20 países para participar de torneios e sempre aproveitou das oportunidades para “expandir os horizontes, conhecendo o mundo e outras culturas”. Sobre persistência, ela é reconhecida no mundo do xadrez como quem sempre tenta e nunca desiste. “Um dos meus pontos fortes que todo mundo fala é que eu não jogo a toalha muito cedo”, comenta, com um sorriso no rosto.

Em 2021, Juliana precisou dar um tempo na participação em torneios, por conta da pandemia e também para uma outra atividade: ser mãe. No ano passado voltou à ativa e, apesar de ter sido um período de readaptação e retomada não tão simples, tal dedicação trouxe grandes resultados, como foi o caso da sua sétima vitória no Campeonato Brasileiro Feminino. O próximo desafio, inclusive, tem data marcada: o 9° Floripa Chess Open, em Florianópolis, que começa neste domingo (29) com mais de 500 jogadores inscritos. E desta vez, o custo da viagem será coberto pelo seu primeiro patrocinador oficial: a X&P Esportes.

Rotina intensa – Para a próxima olimpíada Juliana conta que os seus preparativos já começaram. “Eu espero chegar bem-preparada. Como já sei que estou classificada para a seleção, quero treinar para representar bem o Brasil”, disse a enxadrista, com determinação. Como parte dos treinamentos, ela destacou três exercícios mais importantes para ela: de tática, de cálculos e da parte psicológica. “É como dizem no velho ditado: ‘jogue a abertura como um livro, o meio-jogo como um mágico e o final como um computador’”, resume Juliana, explicando que no meio-jogo é necessário ser criativo e “quanto mais padrões reconhecer, mais ideias você pode ter na hora”, e o final, um dos momentos decisivos, é “onde você precisa fazer cálculos com precisão”.

Na parte psicológica, Juliana ressalta que o xadrez é um esporte que os jogadores se submetem a uma grande pressão, pois uma partida pode demorar até 6 horas. Fora isso, há o fato de você estar sentado frente à frente com o adversário. “Eu acho que o psicológico no xadrez tem um grande peso, porque é um jogo que mexe com muitas emoções, as pessoas ficam muito nervosas”, argumentou.

Mesmo buscando pela melhor classificação na olimpíada, Juliana analisa, de forma realista, que “é muito difícil que o Brasil ganhe”. “Precisamos de muito incentivo e investimento para isso”, explica. Hoje, ela tem sua renda formada totalmente de seus trabalhos como enxadrista profissional, participando de torneios e dando aulas de xadrez. Vale lembrar que interessados em aprender diretamente com a melhor enxadrista feminina do Brasil podem entrar em contato através do perfil do Instagram: @juterao.

(Lika Shioroma)

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