Haicai Brasileiro – Temas de Agosto

[Este texto destina-se exclusivamente à edição 133]  

HAICAI BRASILEIRO 

O Jornal Nippon Já publica aqui os haicais enviados pelos leitores. Haicai é um tipo de poema que se originou no Japão. Seu maior expoente é Matsuo Bashô (1644-1694). O haicai caracteriza-se por descrever, de forma breve e objetiva, aspectos da natureza (inclusive a humana) ligados à passagem das estações. Hoje, no mundo inteiro, pessoas de todas as idades e formações escrevem haicais em suas línguas, atestando a universalidade dessa forma de expressão. 

A seleção é feita pelos haicaístas Edson Iura e Francisco Handa.

Escreva até três haicais de cada tema sugerido (o tema deverá constar do haicai), identificando-os com seu nome (mesmo quando preferir usar pseudônimo) e endereço. Cada pessoa pode participar com apenas uma identidade. 

Os trabalhos devem ser enviados exclusivamente para o e-mail ashiguti@uol.com.br, com o assunto: “Haicai Brasileiro”.

TEMAS DE AGOSTO

Cascata seca – Azaleia – Cachecol

frio intenso 

no pescoço um cachecol –

evita tremores

Alberto Valença Lima 

São Paulo, SP

a brisa a romper

o silêncio represado

na cascata seca

André

Florianópolis, SC

Vovó na poltrona 

olha revista de moda –

Cachecol de lã 

Cida Buongermino

Santos, SP

Aqui, acolá

azaleias coloridas,

Jardim da vovó. 

Didi Tristão

São Paulo, SP

Pronto pro trabalho –

O cachecol fica em casa

na boca do gato

George Goldberg

Londres, Inglaterra

Na cama do gato

tem muito mais serventia

o velho cachecol.

Hoshin Banana

São Paulo, SP

Da antiga janela

O regador verte a água

Na azaleia púrpura

Jaque Monteiro

Gama, DF

oh, velha pedreira!

une-se à cascata seca

o longo silêncio

José Marins

Curitiba, PR

no jardim do prédio –

as azaleias acolhem 

murmúrio dos pássaros

Jurema Rangel

Rio de Janeiro, RJ

cascata seca –

baixo volume d’água 

emergem as pedras. 

Lucas Rodrigues do Carmo 

Cariacica, ES

esqueço do frio –

bela muda de azaleia

nas mãos da amiga

Madô Martins

Santos, SP

cachecol –

em volta do pescoço

flutua no vento

Marisa Tereza de Sá 

Osasco, SP

Arranjos de azaleias

espalhados pelo salão.

Ah! festa surpresa…

Marli Tristão

São Paulo, SP

tricô inacabado –

esquecido na estante  

“meio cachecol”

Maurício de Oliveira

São Paulo, SP

Cortina xadrez –

Na floreira da janela,

quantas azaleias…

Mônica Monnerat 

Santos, SP 

Silêncio na mata…

Pedras da cascata seca

Cobertas de folhas.

Reneu Berni

Goiânia, GO

Velho cachecol –

Companheiro do passeio

no alto da serra

Taís Curi

Santos, SP

A velha casinha

nem parece abandonada

– Azaleia em flor.

Zekan Fernandes

São Paulo, SP

Temas de setembro (postar até 10 de agosto)

Mar de primavera – Frésia – Rodeio 

Temas de outubro (postar até 10 de setembro)

Marimbondo – Uvaia – Dia das Crianças

[Este texto destina-se exclusivamente à edição 0133] 

Haicai Brasileiro

Francisco Handa

Tempo para compor (8)

Existe diferença entre os que compõem para si, como se fosse um diário de emoções, intimista o suficiente para ser guardado, e entre os que se expõem em livros e pelos canais de comunicação. Não penso no haicai nessa contradição. O haicai sempre é para ser mostrado e devidamente apreciado. Mais vale, neste caso, a composição em si do que o seu autor. Nem o autor deve se preocupar em sentir-se vaidoso pelo fato de a composição agradar. Um haicaísta seguro do que compõe não necessita de elogios. Um haicai é bom por si próprio e ganha relevância suficiente para ser mostrado. Uma vez que o haicai é composto, no ato de leitura, seu autor se habilita a tornar-se também um haicaísta.

Quem aprecia um haicai é um haicaísta leitor. Na leitura, outras informações surgem na sensibilidade de perceber. O haicai composto ganha uma autonomia, que muitas vezes foge da perspectiva do próprio autor. Por isso, não se pergunta o que o autor quis dizer, mas o que o haicai diz.

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