Governo reconhece perseguição durante a Segunda Guerra contra imigrantes japoneses

Presidente da Comissão de Anistia, Enéa de Stutz e Almeida, faz pedido oficial de desculpas – Divulgação

Em uma decisão histórica e carregada de emoção, a Comissão de Anistia, órgão autônomo do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, aprovou na última quinta-feira (25) o reconhecimento oficial de que imigrantes japoneses e seus descendentes nascidos no Brasil foram politicamente perseguidos durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Trata-se, em síntese, de um marco de justiça e reparação para a comunidade nipo-brasileira, que há décadas busca reconhecimento pelos sofrimentos enfrentados no passado.

A admissão das perseguições e da conivência estatal foi resultado de um pedido de reparação coletiva apresentado pelo produtor audiovisual Mário Jun Okuhara e pela Associação Okinawa Kenjin do Brasil (AOKB), representando toda a comunidade. Em 2021, uma composição anterior da comissão havia negado um pedido semelhante, tornando esta aprovação ainda mais significativa.

“Reafirmamos nosso compromisso com a memória e a justiça.  O Brasil tem esta oportunidade para reconciliar com o seu passado e corrigir um erro histórico. Para as nossas famílias, um momento para honrar nossos antepassados e trazer um pouco de conforto emocional. Não conseguiremos apagar as atrocidades cometidas com os nossos pais e avós, mas podemos aprender com estes tristes episódios e evitar que isso volte a acontecer com qualquer pessoa, independente de sua origem ou etnia”, destacou Okuhara durante a sessão, acrescentando ainda que “são histórias de resistência que nos inspiram a lutar contra o racismo, a xenofobia, o ódio e a intolerância em todas as suas formas.  Seguiremos como sempre, com trabalho, empenho e compromisso com o Brasil”.

Durante a sessão pública em Brasília, a presidente da Comissão de Anistia, Eneá de Stutz e Almeida, fez um pedido de desculpas oficial em nome do Estado brasileiro. “Quero pedir desculpas em nome do Estado Brasileiro pela perseguição que os antepassados dos senhores e das senhoras sofreram, por todas as atrocidades e crueldades, o preconceito, a xenofobia, o racismo. Que essas histórias sejam contadas para que isso nunca mais se repita”, declarou Eneá, com uma emoção palpável que ressoou em todos os presentes.

O ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, presente à sessão, classificou o reconhecimento das violações aos direitos humanos contra imigrantes japoneses e seus descendentes como um “ato de justiça”. 

Ele destacou que a participação do Brasil ao lado das forças aliadas durante a Segunda Guerra Mundial levou à perseguição arbitrária de membros da comunidade japonesa, incluindo detenções, restrições à liberdade de expressão e associação, tortura e confisco de bens. “Este reconhecimento é um passo essencial para corrigir os erros do passado e garantir que tais injustiças nunca mais se repitam”, afirmou o ministro.

Por parte da comunidade, o ex-presidente da AOKB, Eiki Shimabukuro, fez um discurso emocionado, lembrando da memória dos que sofreram com a situação e uma reverência aos familiares que foram impactados. “O que queremos desesperadamente é denunciar esta terrível injustiça histórica e restaurar a justiça para os imigrantes japoneses. Há também algo que gostaria de dizer àqueles que faleceram em luto e sofrimento. Gostaria de transmitir ao governo que admitiu o seu erro e fará tudo o que estiver ao seu alcance para garantir que este tipo de perseguição aos direitos humanos nunca mais ocorra.”, disse Shimabukuro.

Coordenador do Centro de Pesquisas da Imigração Okinawana, Akira Miyagi, lembrou que o “pedido de desculpas (por parte do Governo) lançará mais uma vez luz sobre o caso de deportação forçada de Santos, que ficou na escuridão, e será uma mudança inovadora na história do sofrimento de Imigrantes japoneses durante e após a guerra”.

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