Presidente responde a questões sobre perseguição durante e após a guerra
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deve visitar o Japão neste fim de semana, deu uma entrevista coletiva a correspondentes da mídia japonesa no Palácio Presidencial em Brasília, na manhã do dia 18. Ele foi questionado sobre o pedido de desculpa federal feito pela Comissão de Anistia em 25 de julho do ano passado pela perseguição relacionada à guerra de imigrantes japoneses, incluindo o incidente de despejo forçado de Santos: “O próprio presidente estaria disposto a pedir desculpas?”, ao qual ele declarou claramente: “Sim”.

Quando o correspondente da televisão TBS em São Paulo, Takafumi Yamaguchi, perguntou: “Gostaria de ouvir a opinião do presidente Lula sobre o pedido de desculpas feito pelo Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania em 25 de julho do ano passado, em nome do governo federal pela perseguição aos imigrantes japoneses durante a guerra”, o presidente Lula respondeu: “Acho que [o pedido] foi uma atitude de grandeza democrática e de grandeza humanística. A nossa comissão de anistia e o nosso ministério de Direitos Humanos têm feito pedidos de perdão aos arbítrios cometidos… na Segunda Guerra Mundial, ou logo após a Segunda Guerra Mundial. Se todo mundo adquirisse o hábito de pedir perdão pelos erros cometidos pelos antepassados, …o mundo voltasse a ser mais humanista, mais fraterna, mais positivista, e não mundo mais negativista, como estamos vivendo. Então o que o Brasil fez com o Japão eu fiz com o continente africano. Sabe, eu pedi desculpas ao continente africano pelos 300 anos de escravidão. Eu acho que isso é importante fazer”.
Ele acrescentou: “Vou trabalhar para que a relação futura com o Japão seja uma relação que não tenha nenhum contencioso. O que nós queremos é paz, o que nós queremos é democracia, o que nós queremos é multilateralismo, o que nós queremos é uma reunião muito perfeita com os nossos países irmãos do mundo. Por isso, a nossa comissão pediu perdão e eu acho que foi extremamente importante para colocar a história em seu patamar verdadeiro. Eu acho que a Segunda Guerra foi um erro, sabe, …os seres humanos ao fazerem a Segunda Guerra. Acho que guerra nenhuma ajuda ninguém. A guerra não constrói, a guerra destrói… Acho um absurdo, absurdo, sabe, que as guerras que acontecem hoje no mundo”.
Quando Yamaguchi pressionou ainda mais, perguntando “O próprio presidente tem alguma intenção de se desculpar?”, ele respondeu claramente: “Eu tenho [Sim]… O mínimo que a gente pode fazer é reconhecer quando a gente erra. E, se o governo da época cometeu equívoco, é justo que hoje a gente possa fazer reparação”.

Akira Miyagi, diretor do Centro de Pesquisas da Imigração Okinawana no Brasil, que publica testemunhos sobre esse caso no periódico “Muribushi” (群星) e vinha impulsionando o movimento do pedido de desculpas, comentou emocionado: “É realmente comovente. Também fiquei profundamente comovido quando a presidente da comissão, Enéa Almeida, disse que faria um pedido oficial de desculpas em nome do governo federal em 25 de julho do ano passado, mas acho incrível que Sua Excelência o Presidente tenha declarado agora que reconhecerá o erro como um fato histórico claro. Durante a guerra, 6.500 imigrantes japoneses foram forçados a deixar Santos em 24 horas, e eles não tiveram escolha a não ser partir com tristeza, lágrimas e nada além do pouco que puderam levar. Em consideração aos nossos antepassados, Sua Excelência o Presidente reconheceu o erro como um erro. Foi por causa desse sentimento que a associação de Okinawa e o centro de pesquisa conseguiram realizar o movimento por um pedido de desculpas, no qual muitos de vocês têm trabalhado juntos. Agora mesmo, estou cheio de gratidão”.
O pedido mencionado é um “Pedido de desculpas sem indenização” (caso número 08000.039749/2015-43) que Mario Okuhara e a Associação Okinawa Kenjin do Brasil (AOKB) solicitaram à Comissão de Anistia do governo federal em relação à perseguição aos imigrantes, como a “expulsão forçada de imigrantes japoneses de Santos durante a guerra” e a “prisão de 172 líderes do grupo ‘katigumi’ na Ilha Anchieta imediatamente após o fim da guerra”.
O incidente da expulsão de Santos ocorreu em julho de 1942, durante a guerra, quando 6.500 imigrantes japoneses que viviam na costa de Santos foram forçados a sair em 24 horas. Uma lista dos despejados descoberta por Yojyu Matsubayashi, diretor do documentário “Okinawa Santos”, revelou que 60% das vítimas eram de okinawanos. Isso levou a AOKB a unir seus esforços no movimento. A maioria das vítimas que testemunharam no filme já faleceu.