Você já se perguntou se existem ninjas, como os personagens de Naruto, na vida real? A resposta é sim e não. O ninja da vida real pode não saber fazer um jutsu de kage bunshin ou kuchiyose, mas existe um japonês que leva uma vida como um verdadeiro ninja: cultiva seu próprio arroz e legumes, treina as artes ninja e mora na cidade Iga, na província de Mie, conhecida como “a cidade dos ninjas”. Ele ainda foi a primeira pessoa do mundo a obter o diploma do curso de pós-graduação em estudos ninja da Universidade de Mie. Conheça Genichi Mitsuhashi, o curioso ninja da atualidade.
Mitsuhashi nasceu em Osaka e se dedicou em artes marciais, como kung fu e shorinji kempo, desde o ensino médio. Durante a sua vida universitária, ele acabou passando por situações de perigo ao viajar pelo América do Sul e pela África. Motivo pelo qual o fez pensar “quero aprender a me proteger”. Assim, aos 26 anos ele começou a frequentar o Bujinkan, um dojô (local onde se treinam artes marciais) de ninjutsu no estilo Togakushi e outras artes ninja. Consequentemente passou a se interessar pela cidade de Iga.
“É baseado na realidade, bem livre e flexível”, define o Mitsuhashi sobre o que aprendeu nas artes ninja, justificando que “você pode usar armas ou até mesmo o corpo do seu inimigo, tudo que precisa para sobreviver”. “Quando entrei em contato com essas coisas, fiquei cada vez mais interessado e assim fui me aprofundando em ninja”, completa.
Em 2018, Mitsuhashi se matriculou na primeira turma do curso de pós-graduação sobre “estudos ninja e ninjutsu” da Universidade de Mie. Além dele, mais duas pessoas tinham se matriculado na mesma época, mas ele foi o único que conseguiu concluir o curso até março de 2020. Não satisfeito, logo no mês seguinte, Mitsuhashi já iniciou um programa de doutorado para investigar como aproveitar do ninja como um “recurso local”.
O professor Yuji Yamada, responsável do centro de pesquisa especializado em ninjas da Universidade de Mie, comentou que ficou surpreso com a dedicação do Mitsuhashi. Somente para conseguir ingressar no curso de pós-graduação sobre “estudos ninja e ninjutsu” é necessário ter conhecimento sobre a história do Japão, além da capacidade de interpretação de documentos históricos relacionados a ninja.
Para cursar a pós-graduação em estudos ninja e ninjutsu, Mitsuhashi se mudou para Iga e até hoje leva uma vida rural praticamente autossuficiente. Ele mesmo cultiva seu arroz e legumes, e o banho é no goemonburo, banheira em forma de chaleira de ferro que aquece a água com a fogueira por baixo. “Achei que se eu me mudasse para Iga e trabalhasse com agricultura, poderia combinar experiência rural, treinamento de artes ninja e estudos acadêmicos de uma boa maneira. Pensei, ‘essa é uma ótima oportunidade, não posso perder essa chance’, e então me matriculei no curso”, explica.
No Japão feudal, os ninjas eram espiões e assassinos que se destacavam em guerras não convencionais, como guerrilha. Mas quando os ninjas não estavam em missão, eles eram humildes fazendeiros que viviam no campo, aperfeiçoando secretamente suas habilidades ninja por meio de tarefas agrícolas. Esse é um aspecto dos ninjas relativamente desconhecido por muitos e, para Mitsuhashi, o estilo de vida ninja é tão importante quanto o treinamento físico e o domínio das armas.
A maior preocupação de Mitsuhashi agora é resgatar o ninja tradicional, que segundo ele, corre o risco de se tornar apenas um passado. “Mesmo prezando a diversidade, acho que precisamos passar adiante o ninja tradicional. Acredito que assim a imagem do ninja atual também será enriquecida”, argumenta.
Mesmo se dedicando tanto em estudos e treinamentos, e se esforçando para adotar um estilo de vida ninja, Mitsuhashi não se considera como um verdadeiro ninja, pois ele diz que ainda não merece o título. Ainda acrescenta que os ninjas, como ótimos espiões, jamais poderiam revelar sua identidade a ninguém.
Hoje, Mitsuhashi é diretor de um dojô de artes ninja e administra uma pousada que fica nas montanhas de Iga. Lá ele oferece diversas atividades, como passeio guiado pelos locais históricos de ninja e treinamento de artes ninja. Através dessas atividades, Mitsuhashi conta que pretende proporcionar oportunidades para experimentar como é ser um ninja de verdade e desconstruir o estereótipo de que ninjas são apenas assassinos vestidos de preto.
(Com informações de Akira Tomoshige, Hideto Sakai e Masako Iijima da Reuters)