Se o intuito era prestar uma justa e grandiosa homenagem ao Bicentenário da Independência, a comunidade de São Paulo conseguiu cumprir com brilhantismo o feito. Afinal, o que se viu na avenida da Liberdade (zona central da cidade) no último domingo (04) foi uma grande junção de forças de entidades e voluntários para mostrar a plenitude das demonstrações artísticas, culturais e esportivas, bem como o forte laço de amizade que rege a relação entre Brasil e Japão.
Interditada para a grande parada cívica, a principal via do bairro japonês serviu de palco para apresentações cívicas diversas. Estiveram lá oficias da Marinha, Polícia Militar, Alunos do Colégio Militar e a Cavalaria, bem como a banda de música do Exército e militares do CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva).
Marcado pelo tom formal, o início do evento teve a formação do Pavilhão das Bandeiras, com soldados conduzindo as bandeiras do Brasil e dos estados brasileiros; e com 48 escoteiros responsáveis pelas bandeiras do Japão e das 47 províncias. Após a execução dos hinos nacionais do Japão e Brasil e saudações de autoridades presentes no ato, autoridades japonesas e presidentes das seis entidades procederam as reverências diante das bandeiras, após o vocativo do coordenador da comissão organizadora, Carlos Kendi Fukuhara.
Repleto de autoridades e representantes da comunidade, o cerimonial teve uma grande repercussão, com a cobertura da imprensa nacional e estrangeira. Os principais veículos de comunicação do Japão estavam presentes para registrar a homenagem aos 200 anos de independência. “Isso mostra o quanto essa homenagem tem relevância, pois só os nipo-brasileiros tomaram essa iniciativa, dentre tantas comunidades que fazem parte do País”, explica Fukuhara. O projeto contou com a participação de seis grandes entidades nikkeis: Bunkyo (Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social), Enkyo (Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo), Kenren (Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil), Câmara de Comércio e Indústria Japonesa do Brasil, Aliança Cultural Brasil-Japão e Acal (Associação Cultural e Assistencial da Liberdade).
Coletividade – O coordenador exalta o espírito de coletividade e união da comissão, bem como a resiliência dos voluntários. No total, foram mais de mil membros que participaram do evento, cada qual com uma responsabilidade. “E, no final, o que vimos foi uma grande mobilização dos grupos. Se dedicaram em ensaios, tiveram flexibilidade e grande espírito colaborativo. Esse foi o grande tom do evento, porque colhemos frutos de todo o esforço em prol de uma justa homenagem”, complementa Fukuhara, sem deixar de agradecer os órgãos públicos que “abraçaram” a ideia, além dos coordenadores responsáveis pela logística, alimentação, infraestrutura e toda a produção envolvida para viabilizar o projeto. “Sem dúvidas, foi um grande evento baseado no sentimento de gratidão. Todos que estavam lá tinham isso no coração. Agradecer às oportunidades e homenagear uma pátria que acolheu tão bem nós, os japoneses”.
Comunidade respeitada – No palanque montado quase em frente à Praça da Liberdade, autoridades se reuniram para contemplarem as apresentações. Bastante atento ao evento, o cônsul geral do Japão em São Paulo, Ryosuke Kuwana, recordou os tempos difíceis que os imigrantes japoneses passaram ao chegarem no Brasil há 114 anos, “trabalhando arduamente para sustentarem suas famílias”. “Apesar das dificuldades, os pioneiros de imigrantes e seus descendentes nunca cederam às dificuldades. Graças ao imenso esforço e dedicação, construíram uma comunidade nipo-brasileira respeitada por toda a sociedade. Agradeço à comunidade e, ao mesmo tempo, ao Brasil, um grande e generoso país que acolhe imigrantes de todas as origens e culturas, inclusive os japoneses, com muito carinho e respeito”, destacou Kuwana.
Representando todas as entidades, o presidente do Bunkyo, Renato Ishikawa, ressaltou a pujante cultura japonesa presente no cotidiano de diversas pessoas e que conquista cada vez mais os não-descendentes. “Não temos dúvidas que o intercâmbio cultural entre Brasil e Japão resulta em um valioso patrimônio, fortalecendo a amizade e cooperação. São nações complementares em diferentes aspectos”, resumiu Ishikawa, lembrando uma passagem do ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe. “Ele nos disse ‘juntos, seremos mais fortes’. E assim seguiremos”.
Em nome dos parlamentares, o vereador Aurélio Nomura exaltou a presença de nikkeis em diversos setores da sociedade, “sempre reconhecidos pelo trabalho e dedicação”. “A herança que recebemos dos pioneiros da imigração foi o trabalho e a honestidade. Junto com os ideais da independência, que são o patriotismo e o respeito à nação, temos uma força coletiva imensa. Só podemos agradecer e nos unir para um futuro melhor”, disse.
Gratidão – Para finalizar, o presidente da Associação Comercial de São Paulo e representante da sociedade civil, Alfredo Cotait, agradeceu a “grande homenagem da comunidade, em um belíssimo espetáculo de cores através de expressões da cultura”. “Não temos como não nos curvarmos perante à comunidade japonesa. Sempre trazem uma linda e emocionante homenagem. Foi assim no centenário da imigração e é assim hoje, no bicentenário. O que podemos dizer? Como brasileiro e admirador da cultura, só posso deixar minha gratidão ao povo japonês”, enfatizou Cotait.
(Rodrigo Meikaru)