Cantora japonesa Nanase Aikawa visita o Brasil e se surpreende com ‘Matsuri Dance’

Nanase Aikawa, entrevista na Japan House São Paulo

Nanase Aikawa, cantora que fez muito sucesso no Japão nos anos 90 com hits como “Yume Miru Shoujo ja Irarenai” (Não Posso Ser Uma Garota Sonhadora), visitou o Brasil neste mês de outubro.

Suas músicas, populares no Japão, rapidamente se tornaram sucessos nos karaokês entre os brasileiros de origem japonesa e, há mais de 20 anos, são cantadas e dançadas em “Matsuri Dance”, uma adaptação da dança de bon odori para os mais jovens, que já se espalhou por todo o Brasil, desde a Amazônia até as comunidades japonesas mais remotas.

Durante a sua estadia, ela visitou São Paulo e Londrina. A cidade paranaense é o berço do Matsuri Dance. E lá, ela teve a oportunidade de interagir com a comunidade local.

O próximo ano de 2025, é o ano que Nanase celebra o 30º aniversário de sua carreira como cantora. Coinsidência ou não, também é o ano que marca o 130º aniversário do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre o Brasil e o Japão.

Enquanto Nanase planejava uma turnê com o seu produtor Tetsuro Oda, a vontade de visitar o Brasil cresceu. Assim, o desejo de longa data de “ver e sentir o Matsuri Dance de perto” se realizou, levando a esta visita ao Brasil.

Segue abaixo a entrevista completa (entrevistadora Tomoko Oura, traduzido da matéria publicada no Diário Brasil Nippou):

Nanase Aikawa com os integrantes do Grupo Sansey

Como está sendo sua experiência em São Paulo?

No Japão, me falaram que aqui era perigoso, mas tive muita sorte e não passei por nenhum susto. As pessoas que encontrei foram muito gentis. Tive a impressão de que é uma cidade muito vibrante e agradável. No fim das contas, foi ótimo poder sentir o Brasil com o meu próprio corpo.

Qual foi sua impressão ao saber que suas músicas estavam sendo usadas em danças de bonodori no Brasil?

Quando vi pela primeira vez em um vídeo, há cerca de 20 anos, fiquei surpresa ao ver que a dança era muito mais agitada do que os bonodoris que eu conhecia. Naquela época, senti uma grande proximidade ao pensar que havia pessoas do outro lado do mundo dançando com minhas músicas. Fiquei muito feliz e curiosa para saber quem tinha sido o primeiro a sugerir dançar com essa música.

Sobre o que você conversou com as pessoas envolvidas no Matsuri Dance em Londrina?

Fui convidada a participar de um encontro com os membros do Grupo Sansey, os criadores do Matsuri Dance, e por curiosidade perguntei por que eles usavam minhas músicas. Eles me responderam que minhas músicas são positivas e têm um groove que combina muito bem com o Brasil. O Matsuri Dance foi criado com o objetivo de passar a tradição do bon odori para as novas gerações, e a ideia era usar músicas de J-pop para atrair os jovens. No início, eles dançaram com ‘Shima Uta’ (da banda THE BOOM) e depois com minhas músicas ‘Bye Bye.’ e ‘Yumemiru Shoujo ja Irarenai’. Em Londrina Matsuri, uma nova música é escolhida para a dança a cada ano e as letras também são consideradas na escolha. Fiquei muito emocionada ao saber que minhas músicas continuam sendo utilizadas no Matsuri Dance.

O que você pode compartilhar sobre sua experiência com a comunidade japonesa de Londrina?

Fui recebida com uma hospitalidade incrível, com todas as comidas, desde o pão até o bolo, sendo feitas à mão. Vi ali uma cultura de hospitalidade humana que está se perdendo no Japão de hoje. Fiquei impressionada ao perceber que algo que a sociedade japonesa havia deixado para trás estava vivo e vibrante em um lugar tão distante. Ao me despedir, senti uma forte sensação de pertencimento e o desejo de voltar.

Também foi realizado um debate com o Grupo Sansey

Em 2020, você ingressou na Faculdade de Cultura Shinto da Universidade Kokugakuin, e aturalmente está no doutorado, pesquisando sobre a organização de matsuri (festivais tradicionais japoneses) e sua força de unir pessoas. Além disso, você fundou a sociedade “Culture Plus” com o objetivo de tornar os matsuri sustentáveis. Poderia nos conar mais sobre suas atividades e sues sonhos para o futuro?

Vim para o Brasil com grande interesse, como pesquisadora, em entender como o bon odori do Japão foi transmitido aos descendentes dos imigrantes japoneses e como ele evoluiu ao longo do tempo.

Na Culture Plus, trabalhamos para conectar as culturas regionais tradicionais do Japão ao futuro. Queremos nos dedicar a encontrar maneiras de preservar e transmitir os festivais que estão à beira da extinção em áreas rurais com declínio populacional.

Além disso, minha paixão pela música voltou com força na casa dos meus 40 anos Agora, criar música e fazer shows é algo que me traz muita alegria, é algo muito autêntico para mim e me sinto mais realizado do que nunca. No Matsuri Dance do Brasil, vi que as pessoas locais cantavam em bandas, e eu também quero ter a experiência de cantar ao vivo e sentir a energia do matsuri junto com todos.

Nanase Aikawa com as crianças do Grupo Sansey

(Fotos: divulgação, fornecidas pelo staff da Nanase Aikawa)

Vídeo demonstrativo do que é o Matsuri Dance:

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