‘Escondi muitas coisas até agora’, revela cantor Kauan Okamoto

Kauan Okamoto
Kauan Okamoto revelou em coletiva de imprensa os casos de abuso sofrido entre 2012 e 2016

Cantor nikkei abalou mercado fonográfico japonês após revelar abusos sofridos pelo então empresário, Johnny Kitagawa

Alçado para a carreira artística no concorrido mercado japonês, o cantor nikkei Kauan Okamoto quebrou barreiras no último mês. Não por conta de suas canções e coreografias, mas por trazer à tona casos de abuso e assédio por parte de seu então empresário Johnny Kitagawa, o fundador da grande agências de talentos Johnny & Associates. As revelações bombásticas feitas no mês passado causaram impacto no mercado fonográfico japonês, gerando uma crise sem precedentes. 

Kitagawa – que morreu em 2019 – foi acusado de abuso por Kauan entre 2012 e 2016, quando ainda era membro da agência, acrescentando que sabia de pelo menos três outros que haviam passado por provações semelhantes. Os casos teriam totalizado “entre 15 a 20 vezes”.  “Acho que quase todos (que foram à casa dele foram vítimas)”, disse o cantor em uma entrevista coletiva. “Todos deveriam falar. É, provavelmente, um número chocante de pessoas.”

Kitagawa foi uma das figuras mais reverenciadas na indústria de entretenimento do Japão, impulsionando vários grupos de música pop como SMAP, Arashi e Hey! Dizer! SALTE para o estrelato antes de sua morte em 2019. “Uma palavra de Johnny decidia tudo (sobre o nosso futuro), incluindo aparecer em dramas e comerciais de TV”, contou Okamoto sobre a influência do empresário.

Na época, Okamoto fazia parte do Johnny’s Jr., um grupo de talentos de ídolos masculinos em treinamento que ainda não fizeram sua estreia em uma unidade ou ato solo. Eles costumam ser vistos atuando como dançarinos de apoio para os eventos estabelecidos da agência. “Vim escondendo muitas coisas até agora, mas quis viver sem mentiras a partir deste ano. Quando estava ocorrendo os abusos, era complicado. Não estava acreditando no que estava acontecendo. Não sei se eu negava ou eu fugia. Resolvi relatar todo o ocorrido”, relembra ele. 

Por ser uma pessoa bem conhecida, Kitagawa ditava as regras na carreira artística de seus agenciados. Kauan, ainda novato e sem experiencia, não tinha opção de recusar. “Sou grato por todo suporte que o Jhonny’s deu, porém espero que agência tome atitude referente ao problema ocorrida”, disse.

Antes da exposição do cantor nikkei, Kitagawa já havia sido alvo de inúmeras acusações de má conduta sexual. Em 1999, a revista semanal japonesa Shukan Bunshun publicou uma série detalhando as acusações de abuso infantil e exploração sexual feitas por vários meninos sob sua proteção. Ele processou o editor da revista por difamação e recebeu indenização em 2002, mas o julgamento foi parcialmente anulado após apelação com a decisão do Tribunal Superior de Tóquio.

Saída – Kauan Okamoto deixou a agência em 2016, partindo para uma nova fase da carreira. Em 2020, teve projeção no Brasil ao participar do “Programa Raul Gil” e, em 2022, apresentou quatro músicas no palco do Festival do Japão. O propósito, segundo o próprio cantor, é trabalhar o lado brasileiro, junto ao público daqui. 

“Quero ser alguém que represente os nikkeis brasileiros ao público. Desde criança senti pressão por ser mestiço, por isso quero que essas crianças que sofre com o mesmo problema que eu, não desistam dos seus sonhos e correr atrás para realizar”, comentou ele sobre ter uma audiência e base de fãs no Brasil.

Após repercussão grandiosa, presidente de agência pede desculpas por abusos de Kitagawa

Após a ruidosa repercussão dos casos de abuso, a presidente da Johnny & Associates Inc., divulgou um vídeo explicativo e um pedido de desculpas por escrito àqueles que alegaram abuso sexual por seu falecido fundador, Johnny Kitagawa. Foi uma das raras ações públicas por parte do escritório.

O pedido de desculpas de Julie Keiko Fujishima, sobrinha do ex-presidente da empresa, veio um mês depois que Kauan Okamoto alegou que Kitagawa abusou sexualmente dele em várias ocasiões quando era adolescente. 

“Antes de tudo, gostaria de expressar minhas mais profundas desculpas” aos que afirmaram ser vítimas, disse Fujishima, acrescentando que não estava ciente das ações tomadas por Kitagawa contra talentos afiliados à agência.

Fujishima disse ainda: “Não posso confirmar com Johnny Kitagawa quem é a pessoa em questão”, mas acrescentou que está empenhada em implementar medidas para atender às necessidades das vítimas.

As alegações em torno de Kitagawa ganharam tamanho destaque inclusive fora do Japão que a BBC exibiu um documentário polêmico, incluindo entrevistas com outras pessoas, além de Okamoto, que disseram ter sido abusadas sexualmente pelo magnata da música.

Ao ter contato com os conteúdos disponbilizados pela agêcia, Kauan Okamoto disse ter recebido um pedido de desculpas da própria  presidente da agência. Na ocasião, ele solicitou a adoção de medidas para evitar que tais casos aconteçam novamente. O artista acrescentou que estava grato pelo vídeo e pelo pedido de desculpas por escrito de Julie Keiko Fujishima.

“Para chegar a esse ponto (do caso ganhar repercussão mundial e levantar questões sobre os bastidores do mercado musical japonês), muitas pessoas levantaram suas vozes sobre o assunto”, disse Okamoto. “Agora, caberá como a agência reagirá e quais medidas ela colocará em prática (para evitar que os abusos voltem a acontecer). Além disso, é necessário saber como a mídia lidará com a reportagem sobre isso”, finalizou ele.

spot_img

Relacionados

Destaques da Redação

spot_img