
Quando as oportunidades de vida aparecem, basta agarrá-las e seguir em frente. Pode até parecer uma frase motivacional, mas é a pura realidade da trajetória de Sulayne Takemoto, que encontrou no Japão não apenas um novo lar, mas também um palco para realizar seus sonhos e impactar positivamente a vida de dezenas de pessoas por meio da dança.
Nascida em uma família humilde, Sulayne enfrentou desafios desde cedo. Com uma mãe batalhadora que teve dois casamentos fracassados e um pai que as abandonou quando tinham apenas 1 ano, ela aprendeu a valorizar o esforço próprio. Sua infância foi marcada pela dificuldade financeira, mas também, em paralelo, pelo amor à dança, uma paixão que cultivou desde os 8 anos. “Inicialmente, fiz aulas em projetos do governo, pois não tínhamos recursos. Meu sonho era participar do concurso da morena do É o Tchan (famoso grupo do estilo axé)”, relembra Sulayne com um sorriso.
Apesar dos obstáculos, Sulayne continuou dançando e, aos 12 anos, integrou grupos profissionais de dança. Com a mãe costurando suas roupas para as apresentações, a determinação falava mais alto. Entretanto, aos 14 anos, a dança foi interrompida devido a desafios pessoais e à necessidade de conciliar trabalho e estudos. Aos 18 anos, obteve uma bolsa na faculdade de administração, mas trancou a matrícula no segundo semestre. Veio, em seguida, o casamento e a maternidade aos 19 anos, mas a paixão pela dança permanecia.
De volta aos estudos, terminou a licenciatura em arte, e iniciou o curso de pedagogia. “Foi então que resolvi fazer minha pós em dança, junto com muitos outros cursos. Um dos meus maiores sonhos era conhecer o Japão. Na época dava aula de arte nas escolas de ensino público, tinha cargo efetivo no estado de São Paulo. Mas como eu sonhava em vir (ao Japão), ao efetivar no estado eu poderia tirar licença de 2 anos no cargo e depois eu poderia voltar sem perder”, relembra.

No arquipélago, ela e o marido, também professor, conseguiram vagas em uma escola brasileira – realidade desafiadora. O dinheiro não rendia, e a saudade da dança era constante. A oportunidade de migrar de área surgiu em 2017, quando conseguiu iniciar suas aulas de dança (zumba) em Miyoshi Shi, buscando oferecer uma atividade para sua filha. Com determinação, Sulayne expandiu suas aulas para Toyota, adaptando-se às necessidades dos alunos. No entanto, a pandemia de COVID-19 trouxe desafios significativos. Perdeu 90% dos alunos, e a ideia de desistir pairou no ar. Mesmo enfrentando dificuldades financeiras e a perda do emprego do marido, Sulayne perseverou. Alunos fiéis mantiveram a chama acesa, incentivando-a a seguir em frente. Adaptou aulas para o formato on-line e, após a pandemia, a procura por suas aulas deu um salto.
A paixão pela dança, aliada ao desejo de oferecer atividades positivas para crianças e adultos, levou Sulayne a expandir suas turmas e criar um programa de formação para novos instrutores. Atualmente, sua escola, Baillare, conta com 90 artistas dançarinos, de 3 a 17 anos, que participaram do espetáculo de final de ano.
Os planos para o futuro? Levar a Baillare para todo o Japão, proporcionando alegria, desenvolvimento e laços familiares através da dança. Para Sulayne, a dança vai além da técnica; é expressar sentimentos, é viver e reviver todos os dias.