Bairro da Liberdade ‘modo invisível’: arte urbana traz talento de forma despercebida

Diretor de cinema Akira Kurosawa: pose para selfies e contemplação de visitantes são comuns na rua Galvão Bueno (Artista Gráfica Fidalga)

Andar na Liberdade pode ser uma experiência única, com sua mistura de centro comercial, gastronômico e de entretenimento. Assim como todos os bairros de São Paulo, possui sua característica e uma identidade forte. E uma das mais interessantes e que praticamente passa invisível por milhares de pessoas são os grafites espalhados pela região.

As artes urbanas estão espalhadas por todo o bairro, porém, quase ninguém consegue descrever sequer uma ou duas, das dezenas que estão à vista. Mas é compreensível: com tantas lojas, cores e aromas, os grafites apenas compõem o cenário, ficando, quase sempre, em segundo plano.

Nos últimos tempos, um grande lambe-lambe do diretor Akira Kurosawa na rua Galvão Bueno tem feito sucesso, com diversas pessoas posando em frente à arte para selfies. Mostrando o perfil do rosto do icônico diretor de cinema, o desenho é acompanhado pelos “setes samurais”, a obra mais consagrada da carreira. O interessante, contudo, é a composição do “painel” que o desenho está inserido: Kurosawa é ladeado pelo personagem Patolino e por um rapper, no que, talvez, seja a representatividade da diversidade e a “mistura” que a própria Liberdade é hoje. Mais longe de ser um bairro japonês – ou oriental – e mais próximo de um polo que abraça todas as cores e estilos.

Yuri ‘Ezreal’ é um dos artistas que contribui com a arte urbana no bairro. Fez um grafite na banca de Osmar e dona Ieda, que fica na esquina da rua da Glória com a dos Estudantes, exibindo uma mulher rosa com cabelo azul. Como uma musa, a arte colore o ambiente ao redor e a rua comercial. O artista mudou-se do Rio de Janeiro para o bairro paulistano durante o período crítico da pandemia, em busca de mais oportunidades profisisonais. Para ele – que é apoaixonado pela cultura oriental – deixar um grafite é uma forma de “retribuição” para o bairro que o acolheu. “Trazer o colorido transforma o ambiente e revitaliza o espaço”, justica o grafiteiro, com orgulho.

Trabalho realizado pelo artista Yuri ‘Ezreal’, em banca de jornal na rua da Glória: cores transformam o ambiente

Quem também deixou a sua marca na Liberdade é a artista Mariana Mats. Moradora do bairro, em seu desenho colorido de rosto feminino é possível verificar mais de dois olhos, uma marca do seu estilo artístico, mas sem perder a delicadeza ou causar estranhamento aos olhos. Quando perguntada sobre isso (seu conceito artístico), a artista diz que “temos que estar sempre atentos a olhar tudo ao nosso redor”. Para ela, grafitar é “levar o meu trabalho para todos”. “A rua é muito democrática”, explica, e diz que a importância da sua arte se define em “rua, vivências, cores e uma galeria a céu aberto”.

Na rua Vergueiro, obra grandiosa chama a atenção de pedestres e motoristas (Artista Criola)

Mesmo com tanta coisa para se fazer no bairro, o colorido dos desenhos dá um charme a mais ao bairro. Os grafites são, portanto, uma bela atração do bairro, pois a arte dá uma nova vida ao ambiente. Aliadas ao potencial turístico e comercial, as artes ubanas despertam interesse, “tira o tom cinza”, como explica o próprio Yuri Ezreal e da mais graça e leveza no agito das ruas no cotidiano.

(Texto e fotos: Tiago Uehara)

Confira algumas intervenções de arte urbana no bairro oriental da Liberdade

Kimono em meio a tantas letras e cores na rua Galvão Bueno: tradição e modernidade (Arte: Artista: Grafica Fidalga)
Obra da artista Mariana Matz, na rua Barão de Iguape
Na Avenida da Liberdade, uma personagem misteriosa (Artista desconhecido)
Boas vindas de ponta cabeça aos visitantes da avenida da Liberdade
Seria este trabalho uma alusão às diversas formas de ponto de vista? (Artista Desconhecido)
Na rua Barão de Iguape também há personagens difícies de descrever…
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