Aulas no período noturno correm risco de cessarem caso novas contratações não sejam feitas; denúncias incluem salas superlotadas e docentes sobrecarregados, à beira de um colapso
No dia 02 de junho, alunos do curso de japonês do Departamento de Letras Orientas (DLO) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) visitaram a redação do Nippon Já, denunciando a falta de professores em todos os cursos da faculdade. A situação é tanto alarmante em especial para o curso de japonês: se não houver novas contratações, o período noturno corre o risco de sair da programação.
Salas superlotadas com manutenção precária, dificuldade para conseguir matérias, cancelamento de disciplinas obrigatórias, pouca oferta de disciplinas optativas, professores sobrecarregados à beira de um colapso. Essa é a realidade que os alunos vivenciam na melhor universidade do Brasil.
A professora Eliza A. Tashiro-Perez, que acompanhou a comitiva na visita ao Jornal, explicou que desde 2014 não há reposição de professores que se aposentaram, sendo que a demanda dos alunos e o fluxo de trabalho continuam o mesmo, sobrecarregando o corpo docente.
“Após a redução do corpo docente, só conseguimos fazer as disciplinas obrigatórias”, lamentou a aluna Tiemi Chino, explicando que os alunos do curso de japonês são obrigados a escolherem as disciplinas optativas oferecidas por cursos de outros idiomas. O maior patamar de quadro docente da habilitação em Japonês foi de 9 docentes e, atualmente, conta com apenas 5, uma redução de 45%.
Hoje, o curso de japonês acabou se tornando o único do DLO com turmas nos dois períodos, matutino e noturno, e ambos os períodos excedem o número limite de alunos. Ainda assim, a atual reitoria da USP, ao invés de providenciar novas contratações, pretende fechar o período noturno.
“É preocupante”, descreveu o aluno Gabriel Isuka sobre a situação que exige dos professores jornadas extremamente desgastantes. “O período noturno é importante considerando que costuma ser frequentado por alunos que já são atuantes no mercado de trabalho e suas experiências agregam ao corpo de estudantes”, acrescentou. E, impossibilitando os alunos que já trabalham durante o dia de permanecerem no curso de japonês, “esse intercâmbio (de experiências) pode ser perdido”.
A aluna Monique Mosso, que participou da entrevista de forma remota, também se preocupa com a educação pública no âmbito nacional. “A USP, que é uma universidade referência na América Latina, está passando por uma situação dessas, então imagino como pode estar em outras universidades federais”, comenta.
A comissão de alunos luta para proteger o período noturno do curso de japonês, porque considera que uma vez fechado, será muito improvável a reabertura. “Precisamos servir como exemplo, se nós permitirmos o fechamento do período noturno, a situação para outras universidades pode se tornar ainda mais difícil”, argumentou Monique.
O Centro Acadêmico de Estudos Linguísticos e Literários “Oswald de Andrade” (Caell) elaborou um dossiê em uma assembleia dos estudantes do curso de Letras, com dados coletados em plenárias dos três setores dos departamentos do curso e documentos da própria universidade.
Segundo o dossiê, seriam necessários 114 contratações de novos docentes e funcionários em toda a FFLCH, sendo que as contratações anunciadas para os próximos três anos são apenas 34. Os alunos exigem pelo menos 80 contratações.
(Lika Shiroma)