(Por Lika Shiroma)
O bairro da Liberdade, em São Paulo, é um mundo à parte dentro da grande metrópole. Diversidade é uma palavra que cai bem para a região, pois jovens, adultos, crianças e idosos de todo o canto do Brasil estão atrás de produtos, serviços e uma boa gastronomia. Também é lá que se encontram turmas de segmentações diversas dentro do universo da cultura japonesa: amantes de animês e mangás, cosplayers, j-rockers, lolitas e demais estilos que se misturam em um mar de gente aos finais de semana. Nesse contexto todo, o “Dokidoki Maid Café”, aberto em fevereiro na rua Galvão Bueno, destaca-se pela sua originalidade, pois é o primeiro maid café (cafeterias temáticas que se popularizaram no Japão) fixo do País.
À primeira vista, um maid café pode parecer um simples restaurante onde os atendentes vestem figurinos kawaii (fofo, em japonês), quando na verdade as características e suas peculiaridades vão muito além disso. Há todo um trabalho na construção e preservação de um conceito para cada maid café, mas essencialmente todos se inspiram nas empregadas que trabalhavam em grandes mansões durante a Era Vitoriana, as chamadas “maids”. Elas se preocupavam (e dedicavam-se) para proporcionar uma experiência única, aconchegante e receptiva, levando os clientes a se desconectarem dos problemas da vida cotidiana, aos goshujinsama e às ojousama (palavras que respectivamente significam mestre e senhorita, como os clientes são chamados em maid cafés).
Antes da inauguração do Dokidoki, outros maid cafés já existiram e até existem no Brasil, mas eram esporádicos e itinerantes. A maioria tinha duração de poucos dias, sendo abertos apenas nos eventos da cultura pop oriental. Pensando nesse segmento e com vontade de empreender, o casal Ryusuke (29) (que é japonês), e Suellyne Tsunoda (26) (brasileira descendente de japoneses), decidiram apostar nas possibilidades do bairro oriental, atendendo a uma demanda específica dos otakus (fãs de cultura pop japonesa) que frequentam a região.
O amor que atravessa fronteiras – Os dois se conheceram no Japão, quando Suellyne, aos 18 anos, foi em busca de trabalho (dekassegui) no arquipélago. Ela conta que já passou por vários empregos e lugares até o seu último emprego como atendente de bar em Tóquio, local onde conheceu o marido. Eles se comunicam em japonês, pois Ryusuke quase não fala português ainda e só fazem nove meses desde que se mudaram para cá.
Antes da chegada no Brasil, Ryusuke já trabalhou com pesca na África do Sul, e já havia visitado o Brasil para passear. Por isso, conta que ele mesmo não teve receio nenhum em morar aqui, mas sua família chegou a chorar de preocupação. No Japão ele trabalhava como empresário junto com um amigo seu como sócio. Porém, segundo Suellyne, ele não conseguia tempo para descanso e muito menos para passar com a família e apreciar a sua filha, fato que o motivou a procurar novas possibilidades de serviço. Naquele momento, em meados do ano passado, o casal já sonhava em voltar ao Brasil a passeio. Nisso, tiveram a ideia de tentar abrir um novo negócio no Brasil, deixando a empresa do Japão nas mãos do sócio. Conversaram e pesquisaram sobre diversas possibilidades, estudaram sobre as consequências da pandemia que afetou os comércios e até tendências de comidas, e, por fim, chegaram no modelo como uma das alternativas para investir. O casal se empolgou com o desafio de criar um maid café fixo até então sem precedentes e enxergaram a possibilidade do sucesso no bairro da Liberdade.
Comidinhas fofas – Após decidirem o modelo de negócio, buscarem um local adequado e darem um toque decorativo, finalmente o Dokidoki foi aberto. No cardápio – que não é fixo, pois o casal pretende sempre inovar e implementar sugestões dos seus clientes – estão pratos que servem para um bom almoço, como domburi (arroz servido em uma tigela coberta com alguma mistura, geralmente de peixe ou algum tipo de carne) de carne com brócolis e butadon (arroz com carne de porco temperada com um molho japonês). Também há opções de porções menores como oniguiri (bolinho de arroz japonês), kara age (frango frito) tradicional e apimentado,”doki pan” (pão com queijo e alho) e nikuman (pão cozido a vapor com recheio de carne). Contudo, o carro-chefe da casa é mesmo o omuraisu (porção de arroz com uma omelete de cobertura) decorado com ketchup por um dos maids.
Apresentam também algumas opções de bebidas refrescantes como melon soda que acompanha uma bola de sorvete de creme. E, claro, não poderia faltar a magia dos maids para que os pratos fiquem ainda mais gostosos.
Ombro amigo para qualquer cliente – Fora o cardápio bem criativo, a equipe dos maids que atendem aos clientes é o chamariz do lugar. Atualmente a equipe conta com quatro “maids”: Izzy, Sayuri, Sakai e Adele. E são unânimes em dizer que o trabalho é recompensador e cheio de situações “fofas”.
Todos eles já tinham conhecimento sobre como é um maid café, mas nunca tinham tido experiência em trabalhar como maid. Sakai é um rapaz que trabalha como maid, e não como butler (mordomo) como é comum em outros maid cafés. Para ele, o figurino não interfere na sua sexualidade e aproveita a experiência como fashion. “A proximidade com os clientes causou um pouco de estranhamento no começo”, diz. Hoje, tira de letra. Já Izzy diz que ao vestir o figurino de maid, incorpora uma nova personagem extrovertida e toma o máximo de cuidado para ser educada e proporcionar um momento de alegria aos clientes. “Às vezes só de ser bem recebido já melhora o dia de alguém”, comenta.
Para Sayuri, trabalhar como maid “é uma experiência sempre preço”. “Um episódio que me marcou muito foi que um dos nossos clientes fez um desenho para cada um de nós”, recorda com carinho. Os três tem sentido que o Dokidoki Maid Café tem se tornado um espaço de acolhimento às pessoas solitárias. Sakai lembra até de uma experiência inspiradora: após atender e conversar com uma cliente, ela, posteriormente, enviou uma mensagem de agradecimento, dizendo como “aquilo (o bate-papo) tinha melhorado o seu dia”. “Nem todo mundo tem alguém com quem pode contar quando está se sentindo mal”, diz Izzy. Segundo eles, o consenso é que estava faltando um espaço como o Dokidoki Maid Café no Brasil, que traz interação social e atenção a esse tipo de pessoas.
Objetivos para o futuro – Hoje Dokidoki Maid Café está só começando, mas já conta com clientes fieis. Assim, aos poucos, o casal Tsunoda quer fortalecer a marca e se tornar uma referência, especialmente para cosplayers e os amantes da cultura pop japonesa. “Espero que espalhe entre os frequentadores do bairro da Liberdade que agora temos um maid café aqui”, completa Ryusuke. Os gerentes pretendem organizar eventos para atrair ainda mais o público, como concursos de cosplay valendo prêmios diversos. No Instagram do café, @dokimaidcafe, é possível conferir atualização de cardápios e detalhes sobre os eventos programados.
DokiDoki Maid Café
Rua Galvão Bueno, 351, 2 andar, Liberdade – SP
Aberto de terça a domingo, das 11 às 18 horas)
Mais infos: instagram.com/dokimaidcafe/